✝️O Décimo Primeiro Domingo depois de Pentecostes, no rito tradicional, foca no poder restaurador de Deus e na necessidade de termos nossos sentidos espirituais abertos à Sua graça. A liturgia celebra a autoridade de Deus, que dá força ao Seu povo e o une em Sua casa, como canta o Introito. A Epístola, de São Paulo, recorda o fundamento da fé: a Morte e Ressurreição de Cristo, o Evangelho que deve ser recebido e guardado. O Evangelho da cura do surdo-mudo com a palavra "Ephphetha" ("Abre-te") serve como um poderoso símbolo sacramental de como Cristo abre nossos ouvidos para ouvir a Palavra de Deus e solta nossa língua para proclamar a fé que recebemos, superando a surdez espiritual causada pelo pecado.
🙏 Introito (Sl 67, 6-7 e 36 | ib., 2)
Deus in loco sancto suo: Deus qui inhabitáre facit unánimes in domo... Deus está em seu santuário; Deus que reúne em sua casa os que são unânimes, Ele mesmo dá a seu povo, força e coragem. Sl. Levante-se Deus, e os seus inimigos sejam dispersos, e os que O odeiam fujam de sua presença.
📜 Epístola (I Cor 15, 1-10)
Irmãos: Faço-vos agora lembrar o Evangelho que já vos preguei e que recebestes, e no qual também perseverais. Nele também sois salvos, se o guardais do mesmo modo que vo-lo preguei. De contrário em vão tereis abraçado a fé. Antes de tudo eu vos ensinei o que eu mesmo aprendi: que o Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, como está escrito. Foi visto por Cefas, e depois pelos onze Apóstolos. Depois foi visto por mais de quinhentos irmãos juntos: muitos deles ainda hoje vivem e alguns já morreram. Apareceu depois a Tiago, e em seguida a todos os Apóstolos. Por último de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque eu sou o mínimo dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. Pela graça de Deus, no entanto, sou o que sou, e a sua graça não ficou sem efeito em mim.
✝️ Evangelho (Mc 7, 31-37)
Naquele tempo, saindo Jesus da região de Tiro, veio por Sidon ao mar de Galileia, atravessando o território da Decápole. E trouxeram-Lhe um surdo-mudo e Lhe rogaram impusesse as mãos sobre ele. Jesus, tomando-o dentre o povo, de parte, meteu os dedos em seus ouvidos e tocou-lhe a língua com a saliva. Depois ergueu os olhos para o céu, suspirou, e disse-lhe: Ephphetha, isto é, abre-te. E imediatamente se lhe abriram os ouvidos e se lhe soltou a prisão da língua, e ele falou distintamente. Então Jesus lhes ordenou que a ninguém o dissessem. Não obstante, quanto mais o proibia, tanto mas o divulgavam, e mais admirados, diziam: Tudo tem feito bem; fez os surdos ouvirem e os mudos falarem.
🤔 Reflexões
🕊️Aquele que curou usando saliva de Seu corpo humano significava que era a Palavra feita carne que operava. Ao tocar os ouvidos com os dedos, Ele mostra que o dom do Espírito Santo vem por meio d'Ele para abrir nossas mentes à fé. O suspiro não era de dor, mas de compaixão pela natureza humana, que ainda jazia na surdez da incredulidade, aguardando a futura libertação. O "Ephphetha" é a ordem para que os ouvidos do coração se abram para receber a Palavra, e a língua se solte para confessar a fé que, pela graça de Deus, nos faz ser o que somos. (Santo Agostinho, Sermões 77 e 98).
📖O Evangelho de São Marcos é singular na apresentação deste milagre, com detalhes vívidos como o gesto de tomar o homem à parte, o uso da saliva, o suspiro e a pronúncia da palavra aramaica "Ephphetha". São Mateus, em um trecho paralelo (Mt 15, 29-31), descreve um cenário mais amplo de curas em massa na mesma região da Galileia, mencionando que "trouxeram-lhe coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros", mas não foca na cura individual e detalhada do surdo-mudo, complementando o relato de Marcos com a dimensão da vastidão do ministério de cura de Cristo.
✉️A abertura dos sentidos físicos do homem no Evangelho ilustra perfeitamente o princípio espiritual ensinado por São Paulo na Epístola do dia e em outras cartas. A fé, que é o núcleo do Evangelho da Ressurreição (I Cor 15, 1-4), "vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Cristo" (Romanos 10, 17). O "Ephphetha" de Cristo é, portanto, a ação da graça que torna a alma capaz de receber esta pregação. Assim como a graça não foi em vão em Paulo, tornando-o um apóstolo, a mesma graça abre os ouvidos do pecador para que a Palavra salvífica seja eficaz.
🇻🇦O profundo significado de "Ephphetha" é sacramentalmente ecoado no Rito do Batismo. O Catecismo do Concílio de Trento explica que, ao tocar os ouvidos e as narinas do catecúmeno com saliva, o sacerdote realiza este rito para significar que, pela virtude do Batismo, os sentidos da mente do neófito são abertos para receber as verdades divinas e o "bom odor de Cristo", capacitando a alma a ouvir a Palavra de Deus e confessar a fé para a salvação.