22 MAIO - FÉRIA - S. Rita de Cássia, Viúva


Localidades em que não é celebrada - Missa de domingo

Próprio de alguns lugares - Santa Rita de Cássia

Cuja vida resplandece como luz no calendário da Igreja, nasceu por volta de 1381 em Roccaporena, na Úmbria, Itália, e partiu para a glória celestial em 22 de maio de 1457, em Cássia. Casada ainda jovem, viveu cerca de dezoito anos em matrimônio, enfrentando provações com um esposo de temperamento difícil, até a conversão deste. Após a trágica perda do marido e dos dois filhos, ingressou na Ordem de Santo Agostinho por volta de 1413, dedicando-se inteiramente a Deus. Sua festa, celebrada no dia 22 de maio, conforme o rito tridentino, é um convite a contemplarmos a paciência e a fortaleza de uma viúva que se fez esposa de Cristo. A vida espiritual de Santa Rita é um espelho da Cruz, onde o sofrimento se entrelaça com a caridade ardente. Em sua juventude, aspirava à vida religiosa, mas, obediente à vontade dos pais, abraçou o matrimônio, transformando as tribulações de um lar conturbado em ocasião de santificação. Com paciência heroica, converteu o coração de seu esposo e educou seus filhos na fé. Órfã de família terrena, voltou-se ao Esposo Celeste, ingressando no convento agostiniano, onde se destacou pela penitência, oração e amor aos pobres. Recebeu um estigma na testa, sinal de sua união com os sofrimentos de Cristo, que carregou com humildade até o fim. Sua vida ensina que a verdadeira paz nasce da entrega total à vontade divina, mesmo nas dores mais agudas. Embora Santa Rita não tenha deixado escritos próprios, sua vida é uma obra viva, inscrita no coração da Igreja. A tradição associa a ela a “Oração de Santa Rita”, amplamente divulgada entre os fiéis, que reflete sua intercessão poderosa, conhecida como “advogada dos casos impossíveis”. Um trecho representativo dessa oração é: “Ó Santa Rita, vós que fostes esposa fiel, mãe dedicada e religiosa fervorosa, intercedei por nós junto a Deus, para que, nas nossas impossibilidades, encontremos a força da vossa fé e a graça da vossa paciência.”

Introito (Sl 117, 19 e 22 | ib., 1)
Aperíte mihi portas justítiae, ingréssus in eas confitébor Domino... Abri-me as portas da justiça, a fim de que eu entre e louve o Senhor, a pedra rejeitada pelos que construíam tornou-se a pedra angular. Aleluia, aleluia. Sl. Louvai o Senhor, porque Ele é bom, porque sua misericórdia é eterna.

Epístola (Cant. 2, 1-14)
Eu sou a flor dos campos e o lírio dos vales. Como um lírio entre os espinhos, assim é minha amiga entre as jovens. Como a macieira entre as árvores da floresta, assim é o meu amado entre os jovens. Sentei-me à sombra daquele que eu desejara; e seu fruto é doce à minha boca. Introduziu-me no celeiro do vinho, e em mim pôs em ordem o amor. Sustentai-me com flores, fortalecei-me com frutos, pois enlanguesço de amor. Sua mão esquerda está sob minha cabeça e com a direita ele me abraça. [Diz o esposo:] Eu vos imploro, filhas de Jerusalém, pelas gazelas e pelos cervos dos campos, não desperteis a bem amada, até que ela o queira. [A esposa:] É a voz do meu amado: eis que ele vem, saltando pelas montanhas, transpondo as colinas; meu amado é semelhante a uma gazela e ao cabrito da corça. Eis que Ele está atrás de nosso muro; olhando pelas janelas, observando através das grades. Fala-me o meu amado; Levanta-te minha amiga, apressa-te, minha pomba, minha formosa, e vem. Já passou o inverno, cessou a chuva e foi-se. As flores apareceram em nossa terra; chegou o tempo da poda. A voz da rola fez-se ouvir em nossa terra; a figueira produziu seus primeiros frutos; as vinhas em flor espalharam o seu perfume. Levanta-te, minha amiga, minha formosa e vem.

Evangelho (Mt 13, 44-52)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: O Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. Quem o encontra o esconde, e, contente com o achado, vai e vende tudo o que tem, e compra aquele campo.—O Reino dos céus é também semelhante a um mercador que procurava belas pérolas, e tendo achado uma de grande preço, foi-se e vendeu tudo o que possuía e a comprou. — O Reino dos céus é ainda semelhante a uma rede, que lançada no mar, recolheu peixes de toda espécie. Quando estava cheia, os pescadores a puxaram para a praia, e sentados ali, escolheram os bons peixes para os vasos, e lançaram fora os ruins. Assim será no fim do mundo. Virão os Anjos e separarão os maus do meio dos Justos, e os lançarão na fornalha de fogo. E ali haverá choro e ranger de dentes. Compreendestes tudo isto? Responderam-Lhe: Sim. E Ele continuou: Por esta razão todo escriba instruído no Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas.

Homilias e Explicações Teológicas
O amor ardente entre o esposo e a esposa no Cântico dos Cânticos revela a união mística entre Cristo e a alma, onde a beleza da criação reflete a graça divina que atrai o coração humano à santidade, assim como Santa Rita de Cássia, em sua vida de sofrimento e caridade, espelhou essa entrega total ao Esposo celestial, abandonando-se à providência divina (Santo Agostinho, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, Sermão 9). A parábola do tesouro escondido no campo ilustra a supremacia do Reino dos Céus, que exige a renúncia de todas as posses terrenas para sua aquisição, um sacrifício que Santa Rita exemplificou ao perseverar na pobreza e na paciência, mostrando que a verdadeira riqueza está na conformidade com a vontade de Deus (Santo Ambrósio, Comentário sobre Mateus, Livro 13). A rede que reúne peixes bons e maus aponta para o juízo final, onde a Igreja, como Santa Rita em sua vida de oração, deve discernir entre o justo e o injusto, mantendo a pureza da fé em meio às provações (Santo Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, Homilia 11). A imagem da pomba no Cântico simboliza o Espírito Santo, que guia a alma à intimidade com Deus, um chamado que Santa Rita viveu ao buscar a paz e a reconciliação em sua comunidade, tornando-se um reflexo da harmonia divina (Santo Bernardo de Claraval, Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, Sermão 47).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus (13, 44-52) apresenta as parábolas do tesouro escondido, da pérola de grande valor e da rede, que enfatizam o valor supremo do Reino dos Céus e o juízo final. Em Marcos, a parábola do semeador (Mc 4, 1-20) complementa ao destacar o processo de crescimento do Reino, focando na receptividade do coração humano à palavra divina, um aspecto não abordado em Mateus. Lucas, na parábola do filho pródigo (Lc 15, 11-32), amplia a ideia do tesouro ao ilustrar a misericórdia divina que acolhe o pecador, mostrando que o Reino é também um retorno à casa do Pai, não apenas uma posse a ser adquirida. João, por sua vez, no discurso do Bom Pastor (Jo 10, 11-18), oferece uma visão complementar ao enfatizar Cristo como a porta do Reino, que guia as ovelhas à vida eterna, contrastando com a rede de Mateus que separa os justos dos injustos no fim dos tempos.

Comparação com Textos de São Paulo
A parábola do tesouro escondido ressoa com Filipenses 3, 7-8, onde Paulo considera tudo como perda diante do valor supremo de conhecer Cristo, reforçando a renúncia total exigida pelo Reino, um tema implícito em Mateus. A imagem da rede, que separa os bons dos maus, é complementada por 1 Coríntios 3, 12-15, onde Paulo descreve o julgamento das obras pelo fogo, detalhando o critério divino de purificação não explicitado em Mateus. No Cântico, a união esponsal reflete Efésios 5, 25-27, onde Paulo apresenta a Igreja como esposa de Cristo, purificada para ser santa, um aspecto que amplia a intimidade mística do Cântico. A vida de Santa Rita, marcada pela paciência e caridade, encontra paralelo em Gálatas 5, 22-23, onde Paulo lista os frutos do Espírito, destacando a paciência como virtude essencial, não diretamente mencionada nas leituras.

Comparação com Documentos da Igreja
O Missal Romano de 1920, na oração própria de Santa Rita, destaca sua vida de sofrimento e caridade como modelo de conformidade com a cruz, ecoando a renúncia exigida na parábola do tesouro, mas enfatizando a dimensão prática da santidade vivida na vida cotidiana. A Encíclica Rerum Novarum (1891) de Leão XIII, ao tratar da dignidade do trabalho e da justiça social, complementa a parábola da rede ao chamar a Igreja a discernir entre práticas justas e injustas na sociedade, um aspecto social do juízo não explicitado em Mateus. O Catecismo Romano (1566), no tratado sobre os fins últimos, amplia a parábola da rede ao detalhar o juízo final como separação definitiva entre justos e pecadores, com ênfase na responsabilidade moral individual. A imagem do Cântico, com sua linguagem esponsal, é refletida no Breviário Romano (edição de 1900), que, nas orações místicas, exalta a união da alma com Deus, destacando a contemplação como caminho para a santidade, um tema implícito na vida de Santa Rita.