08 MAIO - APARIÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO


A festa de 8 de maio celebra a aparição de São Miguel Arcanjo no Monte Gargano, na Itália, um evento de grande significado na tradição católica, associado à proteção divina e à luta contra o mal. Segundo a tradição, registrada no Liber de apparitione Sancti Michaelis in Monte Gargano (século VIII), por volta do ano 490, São Miguel apareceu a um pastor no Monte Gargano, na região da Apúlia, após um touro perdido ser milagrosamente encontrado numa caverna. O arcanjo declarou que o local era sagrado e deveria ser consagrado a Deus. Outras aparições se seguiram, incluindo uma em 492, quando São Miguel prometeu proteção contra invasores pagãos, levando à vitória dos cristãos numa batalha. Essas aparições consolidaram o Monte Gargano como um dos principais santuários dedicados a São Miguel, atraindo peregrinos há séculos. A festa litúrgica de 8 de maio, instituída para commemorar esses eventos, destaca o papel de São Miguel como defensor da Igreja e guia espiritual, conforme sugerido em Apocalipse 12:7, onde ele lidera os anjos contra o dragão. A caverna-santuário, conhecida como Basílica de São Miguel, é única por não ter sido consagrada por mãos humanas, mas pelo próprio arcanjo, segundo a tradição.

Introito
Sl. 102, 20 Benedícite Dóminum, omnes Angeli ejus... Bendizei ao Senhor, todos os seus Anjos: vós que sois poderosos em força, que executais sua palavra, obedecendo à voz dos seus mandatos, aleluia, aleluia. Sl. ibidem, 1. Bendiz, ó minha alma, ao Senhor: e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome.

Leitura Apoc. 1, 1-5.
Naqueles dias: Deus revelou o que deve acontecer em breve, enviando por meio de seu Anjo ao seu servo João, que deu testemunho da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo, tudo o que viu. Bem-aventurado aquele que lê e ouve as palavras desta profecia e guarda o que nela está escrito, pois o tempo está próximo. João, às sete igrejas que estão na Ásia: Graça e paz a vós, da parte daquele que é, que era e que há de vir, e dos sete espíritos que estão diante do seu trono, e de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra, que nos amou e nos lavou dos nossos pecados com seu sangue.

Evangelho Mt. 18, 1-10.
Naquele tempo: Os discípulos aproximaram-se de Jesus, dizendo: Quem, pensas, é o maior no reino dos céus? E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles e disse: Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, não entrareis no reino dos céus. Portanto, quem se humilhar como esta criança, este será o maior no reino dos céus. E quem receber uma criança como esta em meu nome, a mim recebe. Mas, aquele que escandalizar um destes pequeninos que creem em mim, melhor seria que lhe pendurassem uma pedra de moinho ao pescoço e o afogassem nas profundezas do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos! É necessário que venham escândalos, mas ai do homem por quem o escândalo vem! Se, pois, tua mão ou teu pé te escandalizar, corta-o e lança-o fora de ti: melhor é entrares na vida mutilado ou coxo do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno. E se teu olho te escandalizar, arranca-o e lança-o fora de ti: melhor é entrares na vida com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado na geena do fogo. Vede, não desprezeis um só destes pequeninos, pois eu vos digo que os seus Anjos nos céus veem continuamente a face de meu Pai, que está nos céus.

Homilias e explicações teológicas
A humildade, que os discípulos são chamados a imitar como crianças em Mateus 18, é a virtude fundamental para entrar no Reino dos Céus, pois reflete a dependência total de Deus, semelhante à confiança de uma criança em seus pais; assim, São Miguel Arcanjo, em sua batalha contra o mal, exemplifica essa humildade ao submeter-se inteiramente à vontade divina, não buscando glória própria, mas a de Deus (Santo Agostinho, Sermo 340A). A visão de Apocalipse 1:1-5 revela Cristo como o Alfa e o Ômega, cuja soberania transcende o tempo, e São Miguel, como príncipe dos anjos, atua como servo dessa realeza eterna, protegendo os fiéis contra as forças do caos espiritual (São Gregório Magno, Moralia in Job, 34.13). A advertência contra escandalizar os “pequenos” em Mateus 18 sublinha a gravidade do pecado que desvia os humildes da fé, um perigo contra o qual São Miguel luta ao defender a Igreja das tentações demoníacas, sendo ele o guardião da pureza espiritual dos eleitos (São Jerônimo, Commentariorum in Matthaeum, 18.6). A realeza de Cristo, proclamada em Apocalipse, exige dos fiéis uma resposta de adoração e obediência, e São Miguel, como chefe das milícias celestes, ensina que a verdadeira grandeza está em servir a Deus com total fidelidade, rejeitando qualquer forma de orgulho (Santo Tomás de Aquino, Summa Theologiae, I, q. 63, a. 8). A proteção divina, simbolizada pela ação de São Miguel, reforça a promessa de Cristo em Mateus 18 de que os “pequenos” jamais serão abandonados, pois os anjos, sob a liderança de São Miguel, velam constantemente por eles (São Bernardo de Claraval, Sermo in Psalmum 90, 11).

Síntese comparativa com os demais Evangelhos
O chamado à humildade como crianças em Mateus 18:1-4 encontra eco em Marcos 9:33-37, onde Jesus coloca uma criança no centro e enfatiza que receber uma criança em seu nome é receber a Ele próprio, destacando a hospitalidade aos humildes como reflexo da acolhida a Deus, um aspecto menos explícito em Mateus. Lucas 9:46-48 complementa ao afirmar que o menor entre todos é o maior, reforçando a inversão de valores do Reino, com ênfase na pequenez como critério de grandeza, enquanto Mateus foca mais na dependência infantil. João, embora não tenha uma passagem idêntica, oferece um paralelo em João 13:14-16, onde Jesus lava os pés dos discípulos, ensinando que a liderança no Reino é serviço humilde, um gesto concreto que ilustra a humildade exigida em Mateus. A advertência contra escândalos em Mateus 18:6-10 é ampliada em Lucas 17:1-2, que generaliza o aviso para qualquer pessoa que cause tropeço, não apenas os “pequenos”, sugerindo uma aplicação mais ampla da responsabilidade moral. Marcos 9:42 adiciona que o castigo pelo escândalo é tão severo que seria melhor ser lançado ao mar com uma pedra de moinho, intensificando a gravidade do pecado em comparação com a formulação de Mateus.

Síntese comparativa com textos de São Paulo
A humildade exigida em Mateus 18:1-4 é complementada por Filipenses 2:5-8, onde Paulo descreve a kénosis de Cristo, que se esvaziou, assumindo a forma de servo, oferecendo um modelo teológico profundo para a humildade infantil, que Mateus apresenta de forma prática. A advertência contra escandalizar os “pequenos” em Mateus 18:6-10 encontra paralelo em 1 Coríntios 8:9-13, onde Paulo alerta contra o uso da liberdade cristã que possa levar os fracos a pecar, enfatizando a responsabilidade comunitária de proteger a consciência alheia, um aspecto ético menos desenvolvido em Mateus. A visão de Cristo como soberano em Apocalipse 1:1-5 é enriquecida por Colossenses 1:15-20, onde Paulo exalta Cristo como a imagem do Deus invisível e primogênito de toda criação, destacando sua preexistência e papel cósmico, que complementa a ênfase apocalíptica na realeza temporal. A intercessão angélica implícita na proteção de São Miguel Arcanjo ressoa em Hebreus 1:14, onde Paulo descreve os anjos como espíritos a serviço dos que herdarão a salvação, reforçando o papel de São Miguel como guardião dos fiéis, um tema não diretamente abordado nos textos litúrgicos do dia. Em Romanos 14:12, Paulo sublinha que cada um prestará contas a Deus, ecoando a seriedade do julgamento divino contra o escândalo em Mateus, mas com foco na responsabilidade individual diante de Deus.