23 set
S. Tecla, Virgem e Mártir


🕊️Santa Tecla, conhecida como a "protomártir" entre as mulheres, foi uma nobre virgem de Icônio que, ao ouvir a pregação de São Paulo Apóstolo, converteu-se e decidiu consagrar sua virgindade a Cristo, rompendo seu noivado. Sua fé inabalável a levou a enfrentar terríveis provações: foi condenada à fogueira, da qual foi salva milagrosamente por uma tempestade; depois, foi exposta a feras selvagens, que se tornaram mansas a seus pés. Sua vida é um testemunho radical do chamado à santidade e da prontidão para o encontro com o Esposo celestial, sendo um exemplo perfeito da virgem prudente que mantém sua lâmpada acesa. Sobre sua firmeza, os antigos martirológios testemunham sua coragem em falar "diante dos reis sem se confundir".

🕊️ Introito (Eclo 45, 30 | Sl 131, 1)

Loquébar de testimóniis tuis in conspéctu regum, et non confundébar... Eu falava de vossos preceitos diante dos reis, e não me confundia; e meditava em vossos mandamentos, que muito amo. Sl. Bem-aventurados os que se mantêm sem mácula no caminho; os que andam na lei do Senhor.

📜 Epístola (Eclo 51, 1-8 e 12)

Livro da Sabedoria. Glorificar-Vos-ei, ó Senhor, meu Rei, e louvar-Vos-ei, ó Deus, Salvador meu. Celebrarei o vosso Nome porque Vos fizestes meu auxílio e meu protetor e livrastes o meu corpo da perdição, do laço da língua iníqua e dos lábios dos mentirosos. Diante dos meus adversários Vos declarastes o meu defensor. Livrastes-me, segundo a vossa grande misericórdia, dos que rugiam preparados para me devorar; das mãos dos que procuravam tirar-me a vida; do poder das tribulações que me cercavam, da violência da chama que me envolvia, e, no meio do fogo, não senti calor; das profundezas do inferno e da língua impura, da palavra de mentira, de um rei iníquo e da língua injusta. Minha alma louvará o Senhor até a morte, porque Vós livrais dos perigos aqueles que em Vós esperam, e os salvais das mãos dos gentios, ó Senhor, nosso Deus.

📖 Evangelho (Mt 25, 1-13)

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: O reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo e da esposa. Cinco porém, dentre elas, eram loucas e cinco prudentes. Ora, as cinco loucas, tomando as suas lâmpadas, não trouxeram azeite consigo. As prudentes, porém, com as suas lâmpadas, tomaram azeite em suas vasilhas. Tardando o esposo a chegar, todas elas tiveram sono e adormeceram. Quando era meia noite, ouviu-se um grito: Eis que chega o esposo, saí-lhe ao encontro. Então se levantaram todas essas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos de vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam. Responderam as prudentes: Talvez não seja ele suficiente para nós e para vós; ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós. Mas, enquanto elas foram comprá-lo, veio o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas; e a porta foi fechada. Mais tarde vieram também as outras virgens e chamaram: Senhor, Senhor, abri-nos. Ele lhes respondeu, dizendo: Em verdade vos digo: eu não vos conheço. Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora.

🤔 Reflexões

🕯️Santa Tecla encarna a figura da virgem prudente, cuja lâmpada é a profissão da fé e o azeite, a caridade que a sustenta. As lâmpadas são as boas obras visíveis, mas o azeite é o tesouro interior do amor a Deus. A caridade é o azeite, um bem que não se pode tomar emprestado; deve ser comprado, isto é, adquirido com esforço pessoal e a graça de Deus, nutrindo-o com a oração e os sacramentos (Santo Agostinho, Sermão 93). Todas as virgens adormecem, pois o sono da morte é comum a justos e pecadores; a diferença se manifesta no despertar, quando apenas os que possuíam o azeite da perseverança e das obras de misericórdia podem iluminar seu caminho para as bodas. O azeite representa a vontade interior, o deleite na justiça e o amor que alimenta a fé, pois sem ele, a fé se extingue na hora da provação (São Gregório Magno, Homilia 12 sobre os Evangelhos). A recusa em partilhar o azeite não indica egoísmo, mas a realidade de que a justiça e a consciência de cada um são intransferíveis no momento do juízo final.

✝️A parábola das dez virgens é exclusiva do Evangelho de São Mateus. Enquanto São Lucas aborda o tema da vigilância de forma mais geral, como na passagem dos servos que esperam o retorno de seu senhor das bodas (Lc 12, 35-38), exortando a ter "os rins cingidos e as lâmpadas acesas", ele não desenvolve a rica alegoria do azeite. A narrativa de Mateus é única ao focar na distinção entre a preparação externa (a lâmpada) e a substância interior da fé (o azeite), ressaltando que a prontidão para o Reino não é apenas uma questão de aparência, mas de uma virtude interior nutrida constantemente.

✍️Os escritos de São Paulo, mestre de Santa Tecla, iluminam profundamente o Evangelho. Em sua Primeira Carta aos Coríntios, ele exalta a virgindade como um estado que permite uma "solicitude sem divisão" pelas coisas do Senhor, o que reflete a vigilância das virgens prudentes (1Cor 7, 32-34). A imagem da Igreja como noiva de Cristo é central em sua teologia: "Eu vos desposei a um único esposo, para vos apresentar a Cristo como virgem pura" (2Cor 11, 2), o que se conecta diretamente com a cena das bodas. Além disso, a exortação final do Evangelho, "Vigiai", ecoa o apelo de Paulo aos Tessalonicenses para que não durmam como os demais, mas que, como "filhos da luz", permaneçam vigilantes e sóbrios, aguardando o Dia do Senhor (1Ts 5, 5-6).

🏛️Os documentos do Magistério da Igreja aprofundam a teologia da virgindade consagrada, ecoando a prontidão das virgens prudentes. A Encíclica Sacra Virginitas do Papa Pio XII ensina que a virgindade pelo Reino dos Céus não é apenas uma renúncia, mas uma escolha positiva que permite ao coração humano amar a Deus "com um amor sem partilha" e dedicar-se mais livremente ao Seu serviço e ao do próximo. Este estado de vida é um sinal escatológico, uma antecipação da união nupcial definitiva com Cristo no céu, para a qual as virgens prudentes se prepararam com o azeite da caridade e da fé perseverante. Assim, a vida de uma virgem consagrada como Santa Tecla é uma lâmpada que ilumina o caminho para as bodas eternas.