😇Nascido na Espanha, São Tomás de Vilanova foi um frade agostiniano que se tornou Arcebispo de Valência. Sua vida foi um exemplo luminoso de caridade heroica, dedicando-se incansavelmente aos pobres e necessitados, a ponto de ser conhecido como o "pai dos pobres". Ele via os bens da Igreja não como seus, mas como patrimônio dos desamparados, distribuindo-os com tal generosidade que muitas vezes ficava sem nada para si. Uma de suas reflexões mais conhecidas resume seu espírito: "Se quereis que Deus ouça as vossas orações, ouvi vós o clamor dos pobres." Sua vida encarnou perfeitamente a parábola dos talentos, multiplicando os dons recebidos de Deus a serviço do próximo.
🙏 Introito (Sl 63, 11 | ib., 2)
Státuit ei Dóminus testaméntum pacis, et príncipem fecit eum... O Senhor fez com ele uma aliança de paz, constituindo-o príncipe, a fim de que tivesse para sempre a dignidade sacerdotal. Sl. Lembrai-Vos, Senhor, de Davi e de toda a sua submissão.
📜 Epístola (Eclo 44, 16-27; 45, 3-20)
Eis o grande sacerdote que nos dias de sua vida agradou a Deus e foi considerado Justo; no tempo da ira, tornou-se a reconciliação dos homens. Ninguém o igualou na observância das leis do Altíssimo. Por isso o Senhor jurou que o havia de glorificar em sua descendência. Abençoou nele todas as nações e confirmou sua aliança sobre a sua cabeça. Distinguiu-o com as suas bênçãos; conservou-lhe a sua misericórdia e ele achou graça diante do Senhor. Enalteceu-o diante dos reis e deu-lhe uma coroa de glória. Fez com ele uma aliança eterna; deu-lhe o sumo sacerdócio, e encheu-o de felicidade na glória, para exercer o sacerdócio, cantar louvores a seu Nome e oferecer-Lhe dignamente incenso de agradável odor.
📖 Evangelho (Mt 25, 14-23)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos esta parábola: Um homem, indo viajar para longe, chamou os seus servos e entregou-lhes os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois, e ao terceiro um, a cada qual segundo a sua capacidade. E partiu logo depois. Aquele que havia recebido os cinco talentos, foi-se e negociou com eles, e lucrou outros cinco. Da mesma sorte, o que recebera os dois talentos ganhou também outros dois. Mas o que havia recebido um só, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor. Passado muito tempo, voltou o senhor desses servos, e chamou-os a contas. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, apresentou-lhe outros cinco, dizendo-lhe: Senhor, vós me entregastes cinco talentos; eis outros cinco mais que lucrei. Disse-lhe o seu senhor. Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu senhor. Apresentou-se também o que recebera os dois talentos e disse: Senhor, vós me entregastes dois talentos; eis aqui outros dois mais que eu ganhei. Disse-lhe o seu senhor: Muito bem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, sobre muito te porei; entra na alegria de teu Senhor.
🤔 Reflexões
💡Os talentos significam tudo o que Deus nos concedeu para nosso uso e benefício, pois a palavra do Senhor é um talento que nos foi confiado para que o negociemos. Quem aprende bem e vive retamente, guarda o talento de seu senhor. Mas quem ouve e não pratica, esconde-o na terra, ou seja, em uma vida entregue aos prazeres terrenos. (São Jerônimo, Comentário sobre Mateus). Os cinco talentos são os cinco sentidos do corpo; os dois talentos são o intelecto e a ação; e o talento único é a própria razão. Aquele que recebeu cinco talentos e ganhou outros cinco representa aquele que, através de seus sentidos corporais, adquiriu o conhecimento das coisas celestiais para si e para os outros. (Santo Agostinho, Questões sobre os Evangelhos, 1.39). Cada um de nós será chamado a prestar contas do que recebeu. O negociar com os talentos é o dever de empregar os dons que Deus nos deu para o bem dos outros e para a Sua glória. Quem não o faz por preguiça, esconde o seu talento na terra, porque os pensamentos terrenos sufocam a semente da palavra divina. (São Gregório Magno, Homilia 9 sobre os Evangelhos).
🔄A parábola dos talentos em Mateus encontra um paralelo na parábola das minas em Lucas (Lc 19, 11-27). Enquanto em Mateus os servos recebem quantias diferentes (cinco, dois e um talento) "segundo a sua capacidade", em Lucas dez servos recebem a mesma quantia (uma mina cada). Esta diferença sublinha em Mateus a distribuição desigual de dons, mas a expectativa proporcional de retorno, enquanto Lucas foca na mesma oportunidade inicial dada a todos. Além disso, em Lucas, o contexto é a proximidade de Jesus a Jerusalém, para corrigir a expectativa de que o Reino de Deus se manifestaria imediatamente, e a recompensa é explicitamente o governo sobre cidades, ligando a fidelidade terrena a uma autoridade celestial concreta.
🕊️Os escritos de São Paulo aprofundam a teologia dos "talentos" como dons espirituais (carismas). Em 1 Coríntios 12, ele detalha que os dons são diversos — sabedoria, ciência, fé, cura — mas distribuídos pelo mesmo Espírito "visando a um fim proveitoso" (1 Cor 12, 7), o que ecoa a ideia de negociar com os bens do senhor para o bem comum. Em Romanos 12, 6-8, Paulo exorta a usar os diferentes dons com diligência: "o que distribui, faça-o com simplicidade; o que preside, com solicitude; o que usa de misericórdia, com alegria". Esta exortação é um chamado direto à ação, condenando a atitude do servo que escondeu seu talento. Finalmente, a prestação de contas da parábola é reafirmada em 2 Coríntios 5, 10: "Porque é necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo."
🏛️Os documentos da Igreja, como os decretos do Concílio de Trento, reforçam a responsabilidade inerente aos dons recebidos, especialmente no clero. O concílio insistiu vigorosamente no dever dos bispos de residirem em suas dioceses, pregarem o Evangelho e administrarem os sacramentos, condenando o absenteísmo como uma forma de "enterrar o talento". A obrigação de um bispo, como São Tomás de Vilanova, de cuidar dos pobres e administrar os bens da Igreja com caridade e prudência é uma aplicação direta do mandato do "servo bom e fiel". O Catecismo Romano, promulgado após o concílio, detalha as obrigações de cada estado de vida, ensinando que toda autoridade e todos os bens são um depósito de Deus, a ser administrado para a Sua glória e o bem das almas, não para proveito próprio.