💖 A devoção a Nossa Senhora no sábado é uma tradição antiga na Igreja, honrando a Virgem Maria, que, segundo a piedade, permaneceu firme na fé durante o Sábado Santo, enquanto os apóstolos duvidavam. Este dia é dedicado a meditar sobre suas virtudes, seu "fiat" e sua cooperação singular na obra da Redenção, especialmente sua fidelidade inabalável ao pé da Cruz, tornando-se um refúgio seguro e um modelo de esperança para todos os fiéis.
👑 Introito (- |Sl 44, 2)Salve, sancta Parens, eníxa puérpera Regem... Salve, ó Santa Mãe, em cujo seio foi gerado o Rei que governa o céu e a terra, por todos os séculos dos séculos. Sl. Exulta o meu coração em alegre canto; ao Rei dedico as minhas obras.
📜 Leitura (Eclo 24, 14-16)
Desde o princípio e antes dos séculos fui criada; e não deixarei de existir em toda a sucessão dos tempos; na morada santa exerci perante Ele o meu ministério. Fui assim firmada em Sião, e repousei na cidade santa; e em Jerusalém está o meu poder. Arraiguei-me em um povo glorioso, e nesta porção do meu Deus, que é a sua herança. Na assembléia dos Santos, estabeleci a minha assistência.
✝️ Evangelho (Jo 19, 25-27)
Naquele tempo, estavam de pé junto à cruz de Jesus, sua Mãe e a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, vendo, então, sua Mãe, e perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua Mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua Mãe. E desde aquela hora o discípulo a levou para a sua casa.
🤔 Reflexões
Ao dizer "Mulher", e não "Mãe", Jesus indicava a hora em que, segundo a profecia, a feminilidade se tornaria a fonte de uma nova vida, não apenas da carne, mas do espírito, cumprindo a promessa feita à primeira mulher. (Santo Agostinho, Tratado sobre o Evangelho de João, 119). A Sabedoria edificou para si uma casa (Prov. 9:1), que é Maria; pois nela, como no templo mais sagrado, o Verbo habitou, e nela firmou o seu poder em Jerusalém, isto é, na visão da paz que Ele trouxe ao mundo aos pés da Cruz. (São Bernardo de Claraval, Sermão sobre o Aqueduto). Desde aquela hora, o discípulo a acolheu não como um fardo, mas como um tesouro; ele a recebeu em seus próprios bens, isto é, em seus dons espirituais, reconhecendo nela a herança que o Senhor lhe confiava do alto do madeiro. (São Beda, o Venerável, Homilias sobre os Evangelhos, 1.4).
🔄 Enquanto os Evangelhos sinóticos (Mateus 27, 55-56; Marcos 15, 40-41; Lucas 23, 49) mencionam a presença de várias mulheres "de longe", observando a crucificação, apenas o Evangelho de João posiciona a Mãe de Jesus "junto à cruz". Além disso, João é o único a registrar o diálogo testamentário de Cristo, no qual Ele entrega Sua Mãe ao discípulo amado e o discípulo a Sua Mãe, estabelecendo a maternidade espiritual de Maria sobre a Igreja de uma forma que os outros evangelistas não detalham.
✉️ São Paulo, embora não narre a cena da crucificação, oferece um alicerce teológico que a ilumina. Em Gálatas 4, 4, ele afirma que Deus enviou seu Filho "nascido de uma mulher", sublinhando a cooperação humana essencial de Maria no plano divino que culmina na Cruz. A sua dor, vivida em união com o Filho, ecoa o princípio paulino de "completar na própria carne o que falta às tribulações de Cristo, em favor do seu corpo que é a Igreja" (Colossenses 1, 24), revelando sua participação corredentora de modo implícito.
⚜️ Documentos pontifícios aprofundam a maternidade espiritual conferida no Calvário. A Bula Ineffabilis Deus (Pio IX) utiliza a passagem do Eclesiástico ("desde o princípio fui criada") para fundamentar a predestinação de Maria para ser a Mãe de Deus, uma preparação para o seu "sim" ao pé da Cruz. A encíclica Ad Diem Illum Laetissimum (São Pio X) desenvolve este momento afirmando que, por sua união com os sofrimentos de Cristo, Ela "mereceu ser congruentemente a reparadora do mundo perdido", tornando-se nossa mãe não apenas por um título afetivo, mas como cooperadora na própria obra da redenção.