Missa comum abades


Introito (Sl 36, 30-31 | ib., 1)Os justi meditábitur sapiéntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do Justo fala a sabedoria e a sua língua profere a equidade. A lei de seu Deus está em seu coração. SL. Não tenhas ciúmes dos maus, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade. ℣.Glória ao Pai

Epístola (Eclo 45,1-6)
Livro da Sabedoria. Ele [Moisés] foi amado de Deus e dos homens; sua memória é abençoada. O Senhor o igualou aos Santos na glória, engrandeceu-o para temor dos seus inimigos e por suas palavras fez cessar as pragas. Glorificou-o diante dos reis; deu-lhe seus preceitos diante de seu povo e mostrou-lhe sua glória. Por sua fidelidade e mansidão o santificou e o escolheu dentre todos os homens. Deus lhe fez ouvir a sua voz, e fê-lo entrar na nuvem. E deu-lhe, face a face, os seus preceitos e a lei da vida e da doutrina.

Evangelho (Mt 19, 27-29)
Sequência do Santo Evangelho segundo Mateus.Naquele tempo, disse Pedro a Jesus: Eis que abandonamos tudo e Vos seguimos: que recompensa haverá então para nós? Respondeu-lhe Jesus: Em verdade vos digo, que no dia da regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, assentar-vos-eis em doze tronos, e julgareis as doze tribos de Israel. E todo aquele que deixar a casa, ou os irmãos, ou as irmãs, ou o pai, ou a mãe, ou a mulher, ou os filhos, ou as terras, por causa de meu Nome, receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.

Homilias e Explicações Teológicas
A justiça do homem santo, cuja boca medita a sabedoria e cuja língua fala o que é reto, é um reflexo da divina ordem que governa o coração, pois a verdadeira retidão nasce da contemplação da lei de Deus, que ilumina o caminho e fortalece a alma contra as tentações do mundo (Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos 36). O justo, como Moisés, é amado por Deus e pelos homens, não por méritos próprios, mas porque a graça divina o eleva acima das honras terrenas, configurando-o como mediador entre o céu e a terra, um intercessor que reflete a glória do Altíssimo (Santo Ambrósio, De Cain et Abel 1.2). A renúncia de Pedro e dos apóstolos, que deixaram tudo para seguir o Mestre, revela que a verdadeira recompensa não está nas riquezas passageiras, mas na comunhão eterna com Cristo, onde a alma encontra repouso na promessa de uma herança incorruptível (Santo Hilário de Poitiers, Commentarius in Matthaeum 19.8). A vocação dos santos abades, celebrada neste dia, manifesta a eleição divina que transforma o coração humano em templo do Espírito, onde a sabedoria divina se faz presente, guiando os fiéis à vida eterna (Santo Beda, o Venerável, Homiliae Evangelii 1.21).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus (19, 27-29) apresenta Pedro questionando Jesus sobre a recompensa por abandonar tudo, com a promessa de receber “cem vezes mais” e a vida eterna. Em Marcos (10, 28-31), a narrativa inclui a menção de “perseguições” junto às recompensas, enfatizando o custo do discipulado e a necessidade de suportar tribulações. Lucas (18, 28-30) amplia a promessa ao destacar que as recompensas são dadas “neste tempo” e na “vida futura”, sugerindo uma continuidade entre as bênçãos terrenas e eternas. João, por sua vez, não relata essa cena diretamente, mas complementa com a ideia de que seguir Cristo implica participar de sua própria vida divina (Jo 17, 3), onde a recompensa é a união com o Pai, um tema mais místico que transcende as imagens materiais de Mateus.

Comparação com Textos de São Paulo
O Evangelho de Mateus (19, 27-29) destaca a renúncia total dos apóstolos e a promessa de recompensa divina. São Paulo, em Filipenses (3, 7-8), aprofunda essa ideia ao considerar tudo como “perda” em comparação com o “supremo bem” de conhecer Cristo, enfatizando a centralidade da união com Ele acima de qualquer ganho terreno. Em 1 Coríntios (9, 24-27), Paulo compara a vida cristã a uma corrida, onde a disciplina e a renúncia são necessárias para alcançar a “coroa incorruptível”, um eco da vida eterna prometida por Jesus. Em Gálatas (6, 14), a renúncia de Paulo é expressa como uma glória exclusivamente na cruz de Cristo, sugerindo que a recompensa não é apenas futura, mas já se manifesta na transformação interior do discípulo.

Comparação com Documentos da Igreja
O Evangelho de Mateus (19, 27-29), com sua ênfase na renúncia e na promessa de recompensa, encontra eco no Missale Romanum (edição pré-Vaticano II), que, na oração própria para a missa dos abades, exalta a vida de desapego dos santos como imitação de Cristo, que se fez pobre para enriquecer os homens. O Breviarium Romanum (antífona para os santos confessores) sublinha que os justos, como os abades celebrados, são “amigos de Deus” que intercedem pelos fiéis, complementando a ideia de Mateus de que os que deixam tudo se tornam juízes com Cristo. O Pontificale Romanum (rito de consagração de abades) destaca a missão de guiar as almas com sabedoria, refletindo o Salmo 36 do Introito, onde a lei divina no coração do justo é a fonte de sua autoridade espiritual.