18 JUNHO - S. EFRÉM, Diácono, Confessor e Doutor


Missa Communi Doctorum

Comemoração dos Ss. Marcos e Marcelino, Mártires

Nascido em 306 na cidade de Nisibe, na Mesopotâmia, São Efrém viveu em tempos de grandes tribulações para a Igreja. Desde jovem, dedicou-se ao serviço de Deus, sendo ordenado diácono e permanecendo fiel a essa vocação até o fim. Por volta de 363, após a cessão de Nisibe aos persas, transferiu-se para Edessa, onde fundou uma escola teológica e continuou sua obra de ensino e escrita. Faleceu em 373, deixando um legado que atravessou séculos. Em 1920, o papa Bento XV o proclamou Doutor da Igreja, reconhecendo sua imensa contribuição à fé.

Ó quão admirável é a obra de São Efrém, que, com coração inflamado pelo amor divino, combateu as heresias de seu tempo, como as dos arianos e gnósticos, com a espada afiada da verdade! Seus hinos, conhecidos como “pérolas da Síria”, cantavam os mistérios da fé, instruindo os simples e elevando as almas à contemplação. Sua pena incansável produziu tratados que defenderam a ortodoxia e exortaram à penitência. Como diácono, serviu os pobres e doentes, especialmente durante a fome em Edessa, mostrando que a verdadeira sabedoria se manifesta na caridade. Por sua eloquência e santidade, foi chamado “Harpa do Espírito Santo”.

“Ó Virgem Mãe, imaculada e pura, tu és o templo vivo do Verbo encarnado, onde Deus habitou em tua carne santíssima.” (Extraído de um hino mariano atribuído a São Efrém, conforme tradição sírica).

“Efrém, o Sírio, com sua mente esclarecida pelo Espírito, compôs hinos que ressoam como cânticos celestes, e seus escritos, cheios de verdade, são como rios que irrigam a Igreja. Ele, humilde diácono, foi elevado pela graça a ensinar os povos, mostrando que a sabedoria divina não depende de honras humanas, mas da fidelidade ao chamado de Deus.” (São Jerônimo, em “De Viris Illustribus”, cap. 115, adaptado da tradução latina, apud “Patrologia Latina”, vol. 23)

17 JUNHO - FÉRIA


 Missa da féria – Missa do domingo passado

Mais um Ataque à Tradição Monástica sob a batuta da Irmã Brambilla


A notícia publicada pela InfoVaticana em 16 de junho de 2025, intitulada "La prefecta Brambilla lanza su primer movimiento contra las abadías tradicionales", relata que o Dicasterio para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, sob a liderança da Irmã Simona Brambilla e da Irmã Tiziana Merletti, ordenou uma visita apostólica à Abadia de Heiligenkreuz, na Áustria, uma comunidade cisterciense conhecida por sua vitalidade e fidelidade à tradição monástica. A notícia sugere que essa ação é o início de uma campanha contra mosteiros tradicionais, motivada por um viés progressista das novas líderes do dicasterio, que seriam hostis a formas tradicionais de vida religiosa.

Os ventos do progressismo continuam a soprar com força nos corredores do Vaticano, agora sob a batuta da Irmã Simona Brambilla, a nova "prefecta" do Dicasterio para a Vida Consagrada. A decisão de lançar uma visita apostólica à Abadia de Heiligenkreuz, um bastião da vida monástica tradicional, não é apenas um movimento administrativo. É um ato de guerra contra o que resta da verdadeira espiritualidade católica, um ataque calculado contra uma comunidade que ousa florescer em meio ao deserto espiritual do pós-Vaticano II.

Primeiro, consideremos os fatos. Heiligenkreuz, uma abadia cisterciense com séculos de história, é um exemplo vivo de fidelidade à Regra de São Bento, à oração litúrgica e à disciplina monástica. Sua vitalidade é inegável: vocações abundantes, liturgia reverente e uma influência espiritual que contrasta com o colapso generalizado das ordens religiosas, que perderam, em média, 45% de seus membros desde os anos 60, como a própria InfoVaticana documenta. E qual é a resposta do Dicasterio de Brambilla? Não louvor, não apoio, mas uma visita apostólica, um mecanismo que, na prática moderna, muitas vezes serve como prelúdio para intervenções draconianas, destituições de superiores ou até a supressão de comunidades. É o mesmo modus operandi usado contra os Franciscanos da Imaculada, cuja única "culpa" foi sua ortodoxia e crescimento.

Agora, quem são os agentes dessa inquisição? A Irmã Brambilla e sua secretária, Irmã Tiziana Merletti, são descritas como formadas em um "clima ideológico claramente progressista". Aqui está a chave da questão. O progressismo, herdeiro direto do modernismo condenado por São Pio X, não tolera a vitalidade da tradição. Ele não suporta ver mosteiros cheios de jovens monges que rezam em latim, vivem a Regra com rigor e rejeitam o espírito secularizante do mundo. Para os modernistas, o sucesso de Heiligenkreuz é uma afronta, uma lembrança de que a "primavera" do Vaticano II produziu apenas frutos podres: igrejas vazias, seminários desertos e ordens religiosas à beira da extinção.

A notícia levanta uma questão pertinente: se a Santa Sé tem "razões suficientes e sérias" para tal visita, como sugere um comentarista, por que não as revela? A falta de transparência é típica do novo regime eclesial, que opera com acusações vagas e processos opacos. Cita-se o exemplo de escândalos como os dos Legionários de Cristo ou do Sodalicio, mas onde está a evidência de abusos em Heiligenkreuz? Sem provas concretas, a visita apostólica parece mais um pretexto para intimidar uma comunidade que incomoda por sua fidelidade. É a mesma tática usada contra qualquer grupo que resista à agenda modernista: rotule-os de "suspeitos", envie inspetores e, se necessário, desmantele tudo sob o pretexto de "renovação".

E não nos enganemos: essa "renovação" é um eufemismo para a destruição da tradição. Como o Concílio de Trento e os grandes papas do passado ensinaram, a vida monástica é o coração pulsante da Igreja, um farol de santidade que sustenta a fé dos leigos. Atacar mosteiros como Heiligenkreuz é atacar a própria Igreja em suas raízes. A pergunta do artigo é devastadora: "Se se castiga o florecimento dos mosteiros fiéis à Regra e à tradição, que tipo de renovação se pretende?" A resposta é clara: uma renovação que troca a cruz pela ideologia, a oração pela burocracia, e a verdade pela conformidade com o espírito do mundo.

Não é surpresa que Brambilla, cuja nomeação já foi questionada por violar o direito canônico (pois um prefeito de dicasterio deveria ser ordenado, capaz de exercer a potestas sacra), lidere essa cruzada. Seu mandato, iniciado sob o pontificado de Francisco, reflete a mentalidade sinodal que busca "abrir" a Igreja ao mundo, mesmo que isso signifique esmagar o que resta de sua identidade católica. E o que dizer do cardeal Ángel Fernández Artime, o "pro-prefecto" que supostamente a supervisiona? Sua presença é apenas um verniz para legitimar uma nomeação escandalosa, um paliativo para acalmar os que ainda respeitam o direito da Igreja.

Referência 

INFOVATICANA. La prefecta Brambilla lanza su primer movimiento contra las abadías tradicionales. InfoVaticana, 16 jun. 2025. Disponível em: https://infovaticana.com/2025/06/16/la-prefecta-brambilla-lanza-su-primer-movimiento-contra-las-abadias-tradicionales/. Acesso em: 18 jun. 2025.

Declaração da arquidiocese de Brasília, uma falsa autoridade?


No dia 15 de junho de 2025, a Arquidiocese de Brasília, sob a autoridade de Dom Paulo Cezar Costa, publicou um comunicado intitulado "Esclarecimento ao povo de Deus acerca de recentes declarações públicas da associação civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura" [Arquidiocese de Brasília 2025]. A nota foi motivada pela crescente influência do Centro Dom Bosco (CDB) e pela recente divulgação de livros, vídeos e iniciativas ligados à tradição católica — incluindo críticas contundentes ao Catecismo de 1992, ao Concílio Vaticano II e à nova orientação eclesial.

A nota também faz referência à participação de sacerdotes da Fraternidade Sacerdotal São Pio X (FSSPX) em eventos promovidos por leigos do CDB. O comunicado reafirma que tanto a FSSPX quanto o CDB não possuem reconhecimento canônico e, portanto, não devem ser considerados como expressão legítima da fé católica na Arquidiocese. Em tom pastoral, mas com linguagem jurídica, o texto recomenda que os fiéis evitem qualquer participação em atividades desses grupos, apresentando-os como ameaças à “comunhão eclesial”.

O primeiro erro fundamental do comunicado é assumir que os fiéis devem preservar a comunhão com bispos e estruturas eclesiásticas que já se separaram objetivamente da doutrina católica tradicional. O que se apresenta como “comunhão” nada mais é que conformidade com o novo rito, com o novo magistério e com o novo espírito de uma igreja que já não é católica. Como dizia Padre Cekada, “se a Missa nova é má, o clero que a impõe está em erro, e toda a estrutura pós-conciliar está contaminada. A fidelidade, então, requer separação.” Assim, ao exigir “obediência” ao clero conciliar, o bispo revela mais fidelidade ao Vaticano II do que a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ao declarar que a FSSPX está em cisma por ter ordenado bispos sem mandato pontifício em 1988, o bispo ignora — convenientemente — que esse mesmo argumento foi debatido e desmentido por teólogos como o próprio Cardeal Castrillón Hoyos e pelo então Papa Bento XVI, que afirmou que os bispos da FSSPX não estavam excomungados latae sententiae. Mas para além disso, a crítica sedevacantista vê o erro ainda mais profundo: se a Sé está vacante, não há sequer quem conceda ou negue mandato pontifício. O bispo invoca uma autoridade cuja própria legitimidade é objeto de suspeita.

O repúdio episcopal ao livro Os Erros do Catecismo Moderno mostra até que ponto os bispos conciliares temem a crítica. O Catecismo de João Paulo II, recheado de ambiguidades sobre liberdade religiosa, ecumenismo e colegialidade, é tratado como sagrado — mesmo contradizendo o magistério infalível de séculos anteriores. Não é o Centro Dom Bosco que semeia confusão, mas o novo catecismo, herdeiro direto do Concílio Vaticano II, que propaga uma nova fé.

O Centro Dom Bosco é uma associação civil e leiga. Em um momento em que a Igreja encoraja o protagonismo do laicato — desde que em sintonia com a ideologia conciliar — é revelador que um grupo que defende a Tradição seja visto como ameaça. Para o sedevacantismo, isso é mais uma evidência de que não estamos diante de pastores preocupados com a salvação das almas, mas de gerentes de uma nova religião. Como diria Cekada, a nova missa gera nova teologia, que gera nova moral, que exige nova obediência.

Ao chamar de “desvio eclesial” a colaboração com a FSSPX ou a crítica ao Vaticano II, a nota episcopal deixa implícito que a fé católica deve ser subordinada ao juízo das autoridades conciliares. Mas o verdadeiro desvio eclesial não está em quem denuncia os erros do Vaticano II, e sim em quem os impõe como norma. Quando a hierarquia exige que se aceite um magistério dúbio, uma liturgia protestantizada e uma disciplina moral frouxa, ela mesma se torna objeto de legítima resistência.

A nota da Arquidiocese de Brasília não é senão mais um documento de autodefesa de uma hierarquia que já não detém verdadeira autoridade apostólica. Como sempre destacou Padre Cekada, não se trata de mera preferência litúrgica ou de debates disciplinares. O problema é doutrinário, estrutural, essencial. A “Igreja conciliar” não é a Igreja Católica, e, portanto, suas condenações não têm peso. Que os fiéis permaneçam fiéis à Tradição, mesmo que isso implique rejeitar os falsos pastores — pois onde está a verdadeira Missa, a verdadeira doutrina e a verdadeira sucessão apostólica, ali está a Igreja de Cristo. E onde não estão... não há nada a obedecer.

Referências 

ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA. Esclarecimento ao povo de Deus acerca de recentes declarações públicas da associação civil Centro Dom Bosco de Fé e Cultura. Brasília, 15 jun. 2025. Disponível em: https://arqbrasilia.com.br/esclarecimento-ao-povo-de-deus-acerca-de-recentes-declaracoes-publicas-da-associacao-civil-centro-dom-bosco-de-fe-e-cultura/. Acesso em: 17 jun. 2025.

CEKADA, Anthony. Work of human hands: a theological critique of the Mass of Paul VI. West Chester, OH: Philothea Press, 2010.

O Jubileu de Leão XIV e o Cristo com Útero


Porventura, caros fiéis, já não bastassem as contínuas investidas do modernismo contra a sagrada doutrina da Igreja, eis que o Vaticano, em sua mais recente exibição de apostasia, nos brinda com uma teologia tão aberrante que faz corar até os hereges mais empedernidos. O artigo recente publicado no Big Modernism, intitulado “Cristo Tem um Útero: A Teologia Surrealista do Jubileu de Leo”, expõe, com clareza alarmante, a nova profundidade a que a Roma conciliar desceu. Permitam-me, no espírito da resistência católica à tirania modernista, dissecar esta abominação com a espada da verdade.

O cerne desta heresia é a tentativa de redefinir Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, com atributos que desafiam não apenas a teologia, mas a própria razão. A proposta de que Cristo possuiria um “útero” não é apenas uma metáfora poética mal concebida, mas uma distorção deliberada da natureza divina e humana de Nosso Salvador. Como ensina o Catecismo Tridentino, Cristo assumiu a natureza humana como homem, não como uma figura andrógina ou feminizada. Tal ideia é um eco das heresias gnósticas, que misturavam elementos pagãos com a verdade revelada, e agora ressurge sob o disfarce de um “jubileu” que mais parece uma celebração do caos.

O artigo aponta que essa teologia surrealista está atrelada ao chamado “Jubileu de Leo”, uma iniciativa que, sob o pretexto de renovação espiritual, promove uma agenda que dilui a masculinidade de Cristo e exalta uma visão panteísta da divindade. É a mesma Roma conciliar que, desde o Vaticano II, substituiu a clareza do dogma pela ambiguidade sentimentalista. Como já alertava o grande Arcebispo Lefebvre, “a nova religião não é a religião católica”. Aqui, vemos a prova: uma tentativa de transformar o Redentor em uma figura híbrida, mais próxima de uma deusa pagã do que do Filho de Deus.

Não se enganem, irmãos: esta aberração não é obra de um teólogo isolado. O Big Modernism revela que tal teologia é endossada por setores influentes dentro da hierarquia conciliar, que veem no Jubileu de Leo uma oportunidade de avançar sua agenda progressista. Bispos, teólogos e até mesmo cardeais, que deveriam ser guardiões da fé, permanecem em silêncio ou, pior, aplaudem esta blasfêmia. É a mesma traição que vimos na promulgação da Novus Ordo Missae, quando a liturgia foi mutilada para agradar o mundo protestante e secular. Agora, é a própria pessoa de Cristo que sofre mutilação teológica.

Onde estão os pastores que outrora defenderam a fé com o sangue? Onde estão os sucessores dos Apóstolos, que deveriam condenar esta heresia com anátemas? Em vez disso, temos uma Igreja conciliar que dança ao som do mundo, adotando o jargão feminista e as ideologias de gênero que corroem a civilização cristã. Como dizia São Pio X, “o modernismo é a cloaca de todas as heresias”. E esta cloaca nunca esteve tão fétida.

O artigo também destaca como o Jubileu de Leo é um ataque velado à liturgia tridentina e à espiritualidade pré-Vaticano II. A exaltação de uma “teologia do útero” não é apenas uma afronta a Cristo, mas uma tentativa de ridicularizar os fiéis que se agarram à Missa de Sempre, à doutrina imutável e à moral perene. Os modernistas sabem que a Tradição é o maior obstáculo aos seus planos. Por isso, como o Big Modernism corretamente observa, eles buscam marginalizar os tradicionalistas, acusando-os de rigidez, enquanto promovem uma liturgia e uma teologia que beiram o absurdo.

Nós, que permanecemos fiéis à Igreja de sempre, não nos surpreendemos. Desde a promulgação de Traditionis Custodes, vimos a hostilidade do Vaticano contra a Missa Tridentina. Agora, com o Jubileu de Leo, eles vão além, atacando a própria essência da fé. Mas, como nos ensina São Paulo, “não nos conformemos com este mundo” (Rm 12,2). Nossa resistência deve ser firme, nossa oração incessante, e nossa confiança na Virgem Maria, Mãe de Deus, inabalável.

Referência

Christ Has a Womb: The Surrealist Theology of Leo’s Jubilee”, publicado em 16 de junho de 2025 no Big Modernism (Substack), disponível em: https://bigmodernism.substack.com/.

15 JUNHO - FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE


Introito (Tob 12, 6 | Sl 8, 2) (Áudio)
Benedícta sit sancta Trínitas atque indivísa Unitas: confitébimur ei, quia fecit nobíscum misericórdiam suam. Ps. Dómine, Dóminus noster, quam admirábile est nomen tuum in univérsa terra! ℣. Glória Patri… Bendita seja a Trindade santa e a Unidade indivisa. Louvemo-la, porque foi misericordiosa para conosco. Sl. Ó Senhor, Senhor nosso, como é admirável o vosso Nome em toda a terra.

Epístola (Rm 11, 33-36)
Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus! Como são incompreensíveis os seus juízos e imperscrutáveis os seus caminhos! Quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem Lhe deu primeiro alguma coisa para que tenha de receber em troca? Porque, d’Ele, e por Ele, e n’Ele são todas as coisas. A Ele seja dada a glória por todos os séculos.

Evangelho (Mt 28, 18-20)
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Todo o poder me foi dado no céu e na terra. Ide, pois, ensinai a todos os povos, e batizai-os em Nome do Padre e do Filho, e do Espírito Santo; e ensinai-lhes a observar tudo o que vos mandei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.

Homilias e Explicações Teológicas
A contemplação da Santíssima Trindade revela a unidade indivisível e a distinção das três Pessoas divinas, cuja profundidade transcende a razão humana, mas ilumina a alma pela fé. O mistério da Trindade não é uma abstração, mas a fonte de toda a criação e redenção, onde o Pai é o princípio, o Filho é a sabedoria encarnada e o Espírito Santo é o vínculo de amor que os une, manifestando-se na missão de batizar todas as nações, como ordenado por Cristo. A Epístola exalta a sabedoria divina, insondável e eterna, que governa todas as coisas, mostrando que a Trindade é o fundamento de toda a ordem cósmica, enquanto o Introito nos convida a louvar a glória de Deus, que se revela na criação e na graça. A Trindade não é apenas um dogma, mas uma realidade viva que nos chama à comunhão com Deus e uns com os outros, pois, como o Verbo se fez carne, assim somos chamados a viver na unidade do Espírito. A missão dada por Cristo no Evangelho é um reflexo da própria vida trinitária, onde a autoridade do Filho procede do Pai e é consumada pelo Espírito, que santifica os batizados. Assim, a Trindade é o modelo da caridade perfeita, que devemos imitar na nossa vida e missão (Santo Agostinho, De Trinitate, Livro VIII). A profundidade da sabedoria divina, exaltada por Paulo, aponta para a humildade que devemos ter ante o mistério, reconhecendo que nossa inteligência é insuficiente para esgotar o abismo da glória divina, mas suficiente para nos maravilharmos com ela (Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, q. 1, a. 2). A ordem de batizar em nome das três Pessoas não é apenas um rito, mas uma participação na vida divina, onde somos incorporados à comunhão eterna de amor que é a Trindade, vivendo para a glória de Deus e não para nós mesmos (Santo Atanásio, Contra os Arianos, Discurso I).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Mateus (Mt 28, 18-20) apresenta a fórmula trinitária explícita no mandato missionário de Cristo, um elemento singular em relação aos outros evangelhos. Em Marcos, o mandato missionário (Mc 16, 15-18) enfatiza a pregação a todas as criaturas e os sinais que acompanham os que creem, como curas e exorcismos, mas não menciona a fórmula trinitária do batismo, focando na ação do Espírito sem nomear as três Pessoas. Lucas (Lc 24, 46-49) complementa ao destacar que os discípulos são testemunhas da ressurreição e devem esperar o Espírito Santo para receber poder, apontando para a vinda do Espírito em Pentecostes, mas sem a menção explícita da Trindade no batismo. João (Jo 20, 21-23) oferece uma perspectiva única, onde Cristo, após a ressurreição, confere aos discípulos o Espírito Santo para perdoar pecados, enfatizando a missão de reconciliação, mas sem conectar diretamente ao rito batismal ou à fórmula trinitária. Assim, Mateus se distingue pela clareza da revelação trinitária no contexto da missão universal, enquanto os outros evangelhos destacam aspectos complementares, como sinais, poder do Espírito e reconciliação.

Comparação com Textos de São Paulo
A Epístola de Romanos (Rm 11, 33-36) exalta a sabedoria e os desígnios insondáveis de Deus, que encontram eco em outros textos paulinos que complementam a visão trinitária. Em 1 Coríntios 12, 4-6, Paulo descreve a diversidade de dons, ministérios e operações, mas a unidade na ação do Espírito, do Senhor (Filho) e de Deus (Pai), destacando a Trindade como fonte de toda a graça na Igreja, um aspecto não explicitado em Romanos. Em Efésios 4, 4-6, a unidade do Espírito, do Senhor e do Pai é apresentada como fundamento da comunhão eclesial, com ênfase na unicidade da fé e do batismo, conectando diretamente à ordem de Mateus 28, 18-20, mas com maior foco na unidade da Igreja. Em 2 Coríntios 13, 13, Paulo invoca a graça de Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo, oferecendo uma fórmula trinitária que reflete a bênção apostólica, ausente em Romanos, mas que reforça a relação íntima entre as Pessoas divinas e a vida cristã. Assim, enquanto Romanos exalta a soberania divina, outros textos de Paulo aprofundam a Trindade como princípio de unidade e graça na comunidade dos fiéis.

Comparação com Documentos da Igreja 
O Símbolo de Atanásio (Quicumque Vult), usado na liturgia dominical em certos períodos, detalha a igualdade e distinção das três Pessoas, enfatizando que a unidade na substância e a trindade nas Pessoas são essenciais para a fé católica, um ponto não explicitado diretamente nos textos litúrgicos, mas implícito na fórmula batismal de Mateus. O Decreto para os Jacobitas (Cantate Domino, Concílio de Florença, 1442) reforça que o batismo em nome da Trindade é o meio de incorporação à Igreja, destacando a necessidade de professar a fé trinitária para a salvação, complementando a ordem missionária de Mateus com uma ênfase doutrinal. A Encíclica Divinum Illud Munus (1897) de Leão XIII, embora posterior, reflete a tradição ao explicar que o Espírito Santo, enviado pelo Pai e pelo Filho, é o princípio da santificação, conectando-se à Epístola de Romanos ao sublinhar a origem divina de toda graça na Trindade. Esses documentos amplificam a compreensão da Trindade como fundamento da fé, da missão e da salvação, aspectos apenas sugeridos nos textos litúrgicos.

Proibições à missa tridentina: promovendo uma falsa unidade


Nos últimos anos, uma onda de decisões episcopais tem varrido dioceses ao redor do mundo, cada uma mais restritiva que a outra, com o objetivo aparente de unificar a Igreja sob uma única forma litúrgica moderna. Essas medidas, promulgadas com a justificativa de harmonia eclesial, revelam, na verdade, uma campanha sistemática contra a liturgia tradicional, a Missa Tridentina, e os fiéis que encontram nela a expressão mais pura da fé católica. Longe de promover a comunhão, tais decretos constroem muros de exclusão, marginalizando aqueles que se agarram à tradição perene da Igreja.

A retórica que acompanha essas restrições é invariavelmente a mesma: a necessidade de uma Igreja unida, livre de divisões, onde todos compartilhem a mesma prática litúrgica. Mas que tipo de unidade é essa que se alcança pela supressão daquilo que é mais antigo, mais venerável e mais santificado pelo uso secular? A Missa Tridentina, codificada por São Pio V no século XVI, não é um capricho de nostálgicos, mas o coração pulsante da espiritualidade católica, forjado por séculos de santos, mártires e doutores da Igreja. Impor sua substituição pelo rito moderno, com suas simplificações e ambiguidades, não é unir, mas dividir; não é construir, mas demolir.

Essa falsa unidade ignora a diversidade legítima que sempre caracterizou a Igreja. Por séculos, ritos variados coexistiram pacificamente, cada um enriquecendo a fé universal. Hoje, porém, sob o pretexto de uma uniformidade artificial, os fiéis tradicionalistas são tratados como estranhos em sua própria casa, forçados a buscar refúgio em capelas improvisadas ou a enfrentar a hostilidade de bispos que veem sua devoção como uma ameaça.

Não há como negar o padrão global dessas ações. De Roma às Américas, da Europa à Ásia, os decretos seguem um roteiro comum: limitações ao uso de igrejas paroquiais para a Missa em Latim, exigências burocráticas para sua celebração, e, em muitos casos, a proibição tácita de clérigos que ousem defendê-la. Essa não é uma mera reforma administrativa; é uma guerra declarada contra a tradição. A Missa Tridentina, com sua reverência, sua precisão teológica e sua orientação transcendente, é um lembrete incômodo das verdades imutáveis da fé, verdades que muitos na hierarquia moderna preferem suavizar em nome de um diálogo com o mundo secular.

Os fiéis que aderem à liturgia tradicional não são rebeldes, como alguns os acusam. São católicos comuns — famílias, jovens, idosos — que buscam a santidade através do mesmo culto que formou gerações de santos. No entanto, são eles que enfrentam a ira dos decretos, sendo relegados a horários inconvenientes, locais remotos ou, pior, ao silêncio forçado. Essa marginalização não é apenas injusta; é uma traição ao mandato da Igreja de preservar o depósito da fé.

O que torna essas medidas ainda mais graves é a contradição que elas revelam na liderança eclesial. Enquanto se fala em sinodalidade, escuta e inclusão, os tradicionalistas são excluídos sem diálogo. Enquanto se exalta a liberdade religiosa, a liberdade de culto dos fiéis da Missa Tridentina é cerceada. E enquanto se clama por uma Igreja missionária, afasta-se um grupo vibrante, cujas comunidades crescem em número e fervor, ao contrário de tantas paróquias modernas que enfrentam declínio.

Essa contradição aponta para uma crise mais profunda: a perda de confiança na própria identidade católica. A Missa Tridentina não é apenas uma forma de culto; é um símbolo da continuidade da Igreja, de sua ligação inquebrantável com o passado apostólico. Rejeitá-la é, em última análise, rejeitar a autoridade da tradição, trocando-a por uma visão progressista que se curva às pressões do tempo presente.

Diante desse cerco, os católicos tradicionalistas não podem desanimar. A história da Igreja é repleta de momentos em que a verdade foi perseguida, mas sempre prevaleceu. Hoje, como no passado, a resistência deve ser pacífica, mas firme. Participar da Missa Tridentina onde ela ainda é oferecida, apoiar sacerdotes fiéis à tradição, educar as novas gerações na doutrina católica imutável — essas são as armas dos fiéis neste combate espiritual.

Os decretos podem multiplicar-se, mas não têm o poder de apagar o que é eterno. A Missa de Sempre, como é chamada, sobreviveu a revoluções, cismas e perseguições. Sobreviverá também a essa onda de supressão, porque sua força não vem de bispos ou documentos, mas da graça divina que a sustenta.

Aos que promovem essas restrições, cabe uma pergunta: que Igreja desejam construir? Uma Igreja que sacrifica sua herança no altar da modernidade, ou uma que abraça sua história como um tesouro vivo? A verdadeira unidade não se impõe pela força, mas se constrói na caridade, respeitando a legítima diversidade de expressões da fé. Suprimir a Missa Tridentina não resolve divisões; apenas as aprofunda.

14 JUNHO - SÁBADO DAS TÊMPORAS DE PENTECOSTES


Introito (Rm 5, 5 | Sl 102, 1)
Cáritas Dei diffúsa est in córdibus nostris, allelúia... O Amor de Deus está derramado em nossos corações, aleluia, por seu Espírito que habita em nós, aleluia, aleluia. Ps. Bendize, ó minha alma, ao Senhor; e todas as coisas que existem dentro de mim louvem o seu santo Nome.

I Leitura (Joel 2, 28-32)
Eis o que diz Deus, o Senhor: Derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão. Vossos velhos serão instruídos por sonhos, e os vossos jovens terão visões. Derramarei também naqueles dias o meu Espírito sobre os meus servos e sobre as minhas servas. E farei aparecer prodígios no céu e na terra, sangue, fogo e rolos de fumaça. O sol converter-se-á em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E sucederá: Todo aquele que invocar o Nome do Senhor será salvo.

II Leitura (Lv 23, 9-11, 15-17 e 21)
Naqueles dias, falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando tiverdes entrado na terra que vos darei, e fizerdes a ceifa das searas, levareis ao sacerdote molhos de espigas como primícias de vossa colheita. No dia seguinte ao sábado, ele elevará o molho diante do Senhor e o santificará para que seja aceito em vosso favor. Em seguida, desde o dia que segue o sábado, no qual oferecestes o molho das primícias, contareis sete semanas inteiras até o dia em que se completar a sétima semana; ao todo serão portanto cinquenta dias. Então oferecereis um novo sacrifício ao Senhor, em todas as vossas habitações; dois pães das primícias de duas dízimas de flor de farinha fermentada, os quais cozinhareis para primícias do Senhor. Celebrareis este dia de maneira soleníssima e guardá-lo-eis como dia santíssimo. Não fareis nele obra servil alguma. Esta será uma lei perpétua em todas as vossas habitações e gerações, diz o Senhor Todo Poderoso.

III Leitura (Dt 26, 1-11)
Naqueles dias, falou Moisés aos filhos de Israel, dizendo: Escuta, ó Israel, o que te prescreverei hoje: Quando tiveres entrado na terra da qual o Senhor, teu Deus, está para te dar a posse, e fores senhor dela e nela habitares, tomarás as primícias de todos os teus frutos e as deitarás num cesto; e irás ao lugar que o Senhor, teu Deus, tiver escolhido para que aí seja invocado o seu Nome. Apresentar-te-ás ao sacerdote que estiver naqueles dias e lhe dirás: Confesso hoje diante do Senhor, teu Deus, que Ele nos ouviu e olhou para a nossa humilhação, o nosso labor e a nossa angústia, e nos tirou do Egito com mão forte e braço estendido, por entre grande pavor, milagres e prodígios, introduzindo-nos neste lugar e dando-nos esta terra onde corre leite e mel. E por esta razão ofereço agora as primícias dos frutos da terra que o Senhor me deu. E tu os deixarás diante do Senhor, teu Deus, e adorarás o Senhor, teu Deus. E te banquetearás com todos os bens, que o Senhor, teu Deus, te houver dado.

IV Leitura (Lv 26, 3-12)
Naqueles dias, falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Se guardardes os meus mandamentos, e os praticardes, eu vos enviarei chuvas em seus tempos, e a terra dará o seu produto e as árvores se carregarão de frutos. A debulha do trigo prolongar-se-á até a vindima, e a vindima juntar-se-á à sementeira; e comereis o vosso pão à saciedade e habitareis em vossa terra sem temor. Darei paz dentro de vossos limites. Dormíreis, e não haverá quem vos atemorize. Afastarei de vós os animais ferozes e a espada não passará por vossos confins. Perseguireis os vossos inimigos, e eles cairão diante de vós. Cinco dos vossos perseguirão um cento de adversários e cem dos vossos perseguirão dez mil deles. Vossos inimigos cairão ao fio da espada diante de vós. Olharei para vós, e vos farei crescer. Multiplicar-vos-ei, e ratificarei a minha aliança convosco. Comereis produtos velhíssimos e sobrevindo os novos lançareis fora os velhos. Porei o meu tabernáculo no meio de vós, e a minha alma não vos rejeitará. Andarei entre vós, e serei o vosso Deus, e vós sereis o meu povo, diz o Senhor Todo Poderoso.

V Leitura (Dn 3, 47-51)
Naqueles dias, o Anjo do Senhor desceu com Azarias e os seus companheiros à fornalha, e desviando da mesma as chamas do fogo, fez que soprasse no meio da fornalha como que uma fresca viração acompanhada de orvalho. As chamas, porém, cresciam acima da fornalha quarenta e nove côvados, e saltando fora dela, queimaram, entre os Caldeus que estavam perto da fornalha, os servos do rei que atiçavam o fogo. Mas o fogo não tocou de modo algum os três jovens [Hebreus], não os molestou, nem lhes causou o menor vexame. Então estes três jovens, em voz uníssona, louvavam, glorificavam e bendiziam a Deus, na fornalha, dizendo:

Epístola (Rm 5, 1-5)
Irmãos: Justificados pela fé, tenhamos paz com Deus, por Nosso Senhor Jesus Cristo. Por Ele temos acesso, pela fé, a esta graça da qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória dos filhos de Deus. E não somente nesta esperança; gloriamo-nos até nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência prova o que valemos e esta prova produz a esperança. E a esperança não traz engano, porque o Amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

Evangelho (Lc 4, 38-44)
Naquele tempo, saindo Jesus da sinagoga, entrou em casa de Simão. Ora, a sogra de Simão tinha uma forte febre e houve quem intercedesse a Jesus por ela. De pé, ao seu lado, ordenou Jesus à febre e esta a deixou. E levantando-se logo, ela os servia. Quando o sol estava no ocaso, todos os que tinham enfermos de várias doenças traziam-nos a Jesus. E Ele, impondo as mãos sobre cada um, curava-os. Saíam também os demônios de muitos deles, clamando e dizendo Vós sois o Filho de Deus. Ele os ameaçava, entretanto, para que não dissessem que sabiam que Ele era o Cristo. Quando se fez dia, Jesus saiu e foi para um lugar deserto. E as multidões O procuravam e foram até Ele; e queriam retê-Lo, com medo que os deixasse. Ele porém lhes disse: É preciso que eu vá a outras cidades anunciar o Reino de Deus: porque para isso fui enviado. E assim pregava nas sinagogas da Galileia.

Homilias e Explicações Teológicas

No Sábado das Têmporas de Pentecostes, a efusão do Espírito Santo, prometida por Joel, manifesta-se como um dom universal que transforma os corações e conduz à salvação, revelando a divina economia que une todos os povos sob a graça divina (Santo Agostinho, Sermão 267, 4). A oferta das primícias, descrita em Levítico, prefigura a Eucaristia, onde Cristo, o verdadeiro pão, é apresentado como sacrifício perfeito, superando os ritos antigos pela sua eterna novidade (Santo Ambrósio, De Mysteriis, 8, 43). O cântico de gratidão em Deuteronômio ensina que a verdadeira ação de graças nasce do reconhecimento da providência divina, que guia a história pessoal e coletiva para a redenção (Santo Basílio, Homilia sobre a Ação de Graças, 5). A cura da sogra de Simão e a pregação de Jesus, narradas em Lucas, revelam o poder do Verbo encarnado que restaura a criação ferida pelo pecado, ordenando todas as coisas para a glória do Pai (Santo Cirilo de Alexandria, Comentário ao Evangelho de Lucas, 4). A paciência nas tribulações, mencionada por Paulo em Romanos, é um reflexo da caridade infusa pelo Espírito, que fortalece a alma para suportar as provações com esperança na glória futura (Santo Tomás de Aquino, Comentário à Epístola aos Romanos, 5, 3). A oração dos jovens na fornalha, em Daniel, simboliza a confiança inabalável na providência divina, que sustenta os fiéis mesmo nas maiores adversidades (Santo Jerônimo, Comentário a Daniel, 3).

Comparação com os Demais Evangelhos
O relato de Lucas 4,38-44, que descreve a cura da sogra de Simão e a pregação de Jesus, encontra complementos significativos nos outros Evangelhos. Mateus 8,14-17 enfatiza que as curas de Jesus cumprem a profecia de Isaías 53,4, destacando seu papel como Servo Sofredor que toma sobre si as enfermidades humanas, um aspecto teológico ausente em Lucas. Marcos 1,29-34 adiciona que as curas ocorreram ao entardecer, sugerindo a urgência das multidões e a extensão do ministério de Jesus além do dia, detalhe não mencionado por Lucas. João, por sua vez, não apresenta um paralelo direto, mas o discurso em João 6,35, onde Jesus se declara o “pão da vida”, complementa a missão de Lucas ao vincular a pregação do Reino à oferta eucarística, um tema implícito na ação de Jesus em Lucas.

Comparação com Textos de São Paulo
A leitura de Romanos 5,1-5, que fala da justificação pela fé e da esperança nas tribulações, é enriquecida por outros textos paulinos. Em Gálatas 5,22-23, Paulo lista os frutos do Espírito, como amor e paciência, que concretizam a caridade mencionada em Romanos, mostrando como o Espírito opera na vida prática dos fiéis, um detalhe não explicitado na leitura do dia. Em 1 Coríntios 12,4-11, a diversidade de dons espirituais complementa a efusão do Espírito prometida em Joel 2,28-32, sugerindo que a universalidade do dom em Romanos se manifesta em carismas variados para a edificação da Igreja. Filipenses 3,7-8, onde Paulo considera tudo como perda diante do conhecimento de Cristo, reforça a esperança em Romanos ao mostrar que a glória futura supera qualquer sofrimento presente, um ponto apenas insinuado na leitura.

Comparação com Documentos da Igreja
O Breviário Romano (Séc. XIX, Ofício do Sábado das Têmporas de Pentecostes) destaca a renovação espiritual dos fiéis pelo Espírito Santo, ecoando Joel 2,28-32 e Romanos 5,1-5, mas enfatiza a consagração dos novos sacerdotes, um aspecto ministerial não abordado diretamente nas leituras. A Encíclica Divinum Illud Munus (Leão XIII, 1897) aprofunda a missão do Espírito Santo como santificador, complementando a efusão universal em Joel ao sublinhar sua ação na Igreja como corpo místico, tema implícito na liturgia. O Missal Romano (Edição de 1962, Oração Coletiva) vincula as primícias de Levítico à oferta eucarística, reforçando a tipologia cristológica de Cristo como sacrifício perfeito, um ponto apenas sugerido nas leituras. A Bula Ineffabilis Deus (Pio IX, 1854), ao tratar da Imaculada Conceição, conecta a ação do Espírito em Maria à sua obra universal, ampliando a perspectiva de Romanos sobre a graça divina.

O Duplipensar Orwelliano de Leão XIV: Uma Crise de Coerência na Igreja Moderna


A acusação de “duplipensar orwelliano” lançada no artigo “Resumo Semanal de Notícias 11 de Junho de 2025” da Catholic Family News contra o Vaticano é um libelo contra a incoerência da Igreja pós-Vaticano II. A frase central, “O duplipensar orwelliano da Igreja moderna é evidente na promoção da unidade enquanto se tomam decisões que aprofundam as divisões entre os fiéis,” expõe uma ferida aberta: a contradição entre o discurso de unidade universal e as ações que fragmentam a fé católica. 

O conceito de “duplipensar”, tirado das páginas sombrias de 1984 de George Orwell, descreve a habilidade de sustentar duas crenças opostas como verdadeiras, sem reconhecer a contradição. No contexto do Vaticano moderno, essa prática é escancarada. A Igreja conciliar proclama o Jubileu de 2025 como um momento de comunhão universal, mas suas ações — da escolha de palestrantes modernistas à politização de sermões — semeiam discórdia entre os fiéis que clamam pela tradição. Essa duplicidade não é um erro administrativo, mas um sintoma de uma crise doutrinária que remonta ao Concílio Vaticano II, cuja abertura ao mundo sacrificou a clareza da fé por uma ambiguidade corrosiva.

Considere a remoção das imagens de Marko Rupnik do site oficial do Vaticano, destacada no artigo. Esse gesto, apresentado como uma concessão às vítimas de abusos, é, na verdade, uma admissão tardia de culpa institucional. Por anos, o Vaticano protegeu a reputação de Rupnik, um jesuíta acusado de crimes graves, enquanto suas obras adornavam plataformas oficiais. A retirada, embora bem-vinda, não apaga a negligência inicial, que revela a prioridade da Igreja conciliar: preservar sua imagem pública acima da justiça e da verdade. Essa hesitação é um exemplo perfeito de duplipensar: proclamar a defesa dos vulneráveis enquanto se protege, mesmo que indiretamente, os perpetradores.

A escolha de Irmã Maria Gloria Riva para discursar ao Papa Leão XIV é outro golpe contra os fiéis tradicionalistas. Associada a movimentos carismáticos e a uma teologia que flerta com o modernismo, sua presença em um evento papal é um endosso implícito de inovações que contrariam a ortodoxia católica. Enquanto o Vaticano exalta a “unidade” no Jubileu, promove figuras que representam tudo o que os tradicionalistas rejeitam: uma fé diluída, desprovida da majestade da liturgia tridentina e da firmeza doutrinária pré-Vaticano II. Essa decisão não une; ela divide, alienando aqueles que buscam a verdadeira Igreja de sempre.

O sermão de Pentecostes do Papa Leão XIV, que condena o nacionalismo em conexão com o conflito Israel-Palestina, é mais uma prova da deriva conciliar. A Igreja, cuja missão é guiar almas à salvação, não tem competência para se envolver em disputas geopolíticas. Ao fazê-lo, o Papa não apenas desvia o foco da verdade espiritual, mas também antagoniza fiéis que veem no nacionalismo uma expressão legítima de identidade cultural. Proclamar unidade enquanto se toma partido em questões seculares é duplipensar puro: a Igreja conciliar quer ser um farol espiritual, mas se comporta como uma ONG, sacrificando sua autoridade moral no altar da relevância contemporânea.

A acusação de “mentiras jesuítas” no livro Catholic Fundamentalism in America de Mark S. Massa é um ataque direto à manipulação intelectual promovida por setores do Vaticano. A Companhia de Jesus, há muito tempo infiltrada por ideias modernistas, é vista como uma força que reescreve a história católica para justificar as reformas pós-conciliares. Essa obra, segundo o artigo, distorce a verdade sobre o catolicismo tradicional, apresentando-o como retrógrado. O Vaticano, ao tolerar tais narrativas, endossa uma visão que desvaloriza a fé de séculos, traindo os fiéis que se apegam à doutrina imutável. Aqui, o duplipensar se manifesta na coexistência de uma Igreja que venera sua história enquanto permite sua reescrita.

O duplipensar orwelliano não é um fenômeno isolado; é o cerne da crise da Igreja pós-Vaticano II. Os fiéis devem rejeitar essa farsa conciliar e retornar à fé de seus antepassados. A Igreja de Cristo não é uma instituição que se curva às modas do mundo, mas uma rocha inabalável de verdade. Enquanto o Vaticano persistir em seu duplipensar, proclamando unidade enquanto semeia divisão, os católicos fiéis devem permanecer firmes na tradição, confiando que a verdade.

14 JUNHO - S. BASÍLIO MAGNO, Bispo, Confessor e Doutor


Nascido no ano de 329, em Cesareia da Capadócia, São Basílio Magno viveu em uma era de grandes desafios para a Igreja. Proveniente de uma família piedosa, foi educado nas melhores escolas de Constantinopla e Atenas. Por volta de 356, renunciou às glórias mundanas e abraçou a vida monástica, retirando-se para a solidão no Ponto. Em 370, foi elevado à dignidade de Bispo de Cesareia, onde governou com sabedoria até sua morte em 1º de janeiro de 379. Sua vida, marcada por fervor e dedicação, foi um farol de santidade em tempos de turbulência. São Basílio Magno foi um pilar da fé cristã, cuja vida resplandeceu como exemplo de virtude e zelo. Como monge, estruturou a vida monástica no Oriente com sua regra, que equilibrava oração, trabalho e estudo, tornando-se modelo para gerações. Como Bispo, defendeu com coragem a ortodoxia católica contra as heresias, especialmente o arianismo, sustentando a divindade de Cristo com escritos teológicos profundos. Sua caridade era incansável: fundou hospitais e instituições para os pobres, vivendo ele mesmo em austera simplicidade. Na liturgia, suas contribuições enriqueceram o culto divino, deixando um legado que ainda ressoa na Igreja Oriental. “Quem é sábio? Aquele que aprende de todos; quem é poderoso? Aquele que governa suas paixões; quem é rico? Aquele que está contente com o que possui.” Esta frase, atribuída a São Basílio, reflete sua sabedoria em exortar os fiéis a buscar a verdadeira riqueza na virtude e na humildade, rejeitando as ilusões do mundo.

Introito (Eclo 15, 5 | Sl 91, 2)
In medio Ecclesiae aperuit os ejus: et implevit eum Dominus epiritu sapientiae, et intellectus... No meio da Igreja, o Senhor o fez falar; encheu-o do Espírito de sabedoria e inteligência, e revestiu-o com uma túnica de glória. Sl. É bom louvar ao Senhor e cantar salmos a vosso Nome, ó Altíssimo.

Epístola (II Tim. 4, 1-8)
Caríssimo: Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos por sua vinda e por seu Reino: prega a palavra, insiste, quer agrade, quer desagrade, repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres confirme os seus desejos, levados pela curiosidade de ouvir. E afastarão os ouvidos da verdade para os abrirem às fábulas. Tu, porém, vigia, trabalha em todas as coisas, faze obra de um Evangelista, desempenha o teu ministério. Sê sóbrio. Quanto a mim, já estou para ser crucificado, e o tempo de minha morte se avizinha. Combati o bom combate; terminei a minha carreira: guardei a fé. Resta-me esperar a coroa da justiça que me está reservada, que o Senhor, justo Juiz, me dará nesse dia. E não só a mim, como também àqueles que desejam a sua vinda.

Evangelho (Lc 14, 26-35)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: Se alguém vem a mim e não odeia a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos e irmãos e irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo. E o que não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo. Qual de vós, querendo edificar uma torre, não se assenta primeiro a calcular os gastos, para ver se tem com que a acabar? Para que não suceda que depois de postos os alicerces e de não a poder concluir, todos os que o virem, não comecem e zombar dele, dizendo: Este homem começou a edificar e não pôde terminar. Ou qual é o rei que, estando para entrar em guerra contra outro rei, não se assenta primeiro a considerar, se com dez mil homens pode ir ao encontro do que traz contra ele vinte mil? Em caso contrário, envia uma embaixada, enquanto o outro ainda está longe, e pede-lhe convênios de paz. Assim, pois, qualquer de vós que não renuncie a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo. O sal é bom. Mas se o sal perder a sua força, como há de recuperá-la? Inútil para estrumar, jogá-lo-ão fora. Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça.

13 JUNHO - 6A FEIRA DAS TÊMPORAS DE PENTECOSTES


Introito (Sl 70, 8 e 23 | ib., 1-2)
Repleátur os meum laude tua, allelúia... Transborde de minha boca o vosso louvor, aleluia; assim poderei cantar, aleluia. Alegrem-se os meus lábios, ao cantar os vossos louvores, aleluia, aleluia. Ps. Em Vós, Senhor, espero: não serei confundido para sempre. Em vossa justiça, lívraí-me e salvaíme.

Epístola (Joel 2, 23-24 e 26-27)
Assim fala Deus, o Senhor: Exultai, filhos de Sião, e alegrai-vos no Senhor, vosso Deus, porque vos dará o Mestre da justiça [o Espírito Santo] e fará descer sobre vós, como outrora, chuvas da manhã e da tarde. As vossas eiras encher-se-ão de trigo e os vossos lagares transbordarão de vinho e de azeite. Vós comereis com fartura e vos saciareis destes bens e louvareis o Nome do Senhor, vosso Deus, que fez em vosso favor tantas maravilhas. Meu povo não será confundido para sempre. Vós sabereis que eu estou no meio de Israel. Eu sou o Senhor, vosso Deus, e não há outro senão eu; e o meu povo não será confundido para sempre. Assim diz o Senhor, o Onipotente.

Evangelho (Lc 5, 17-26)
Naquele tempo, aconteceu estar Jesus sentado certo dia a ensinar. E estavam igualmente sentados ali, fariseus e doutores da lei, que tinham vindo de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. O poder do Senhor mostrava-se nas curas dos enfermos. E eis que alguns homens, levando sobre um leito um homem paralítico, procuravam introduzi-lo dentro da casa e pô-lo diante d’Ele. E não encontrando por onde o introduzir por causa da multidão, subiram ao telhado, levantaram as telhas, e o desceram com o seu leito, no meio de todos, diante de Jesus. Vendo a fé destes homens, disse: Homem, os teus pecados te são perdoados. Então começaram os escribas e os fariseus a apensa r e a dizer: Quem é Este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus? Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, respondeu-lhes: Que pensais em vossos corações? Que é mais fácil dizer: Teus pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te e caminha? Pois para que saibais que o Filho do homem tem poder de perdoar pecados na terra (disse ao paralítico): Eu te digo, levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa. E ele levantou-se logo, em presença deles, tomou o leito em que jazia, e foi para a sua casa, glorificando a Deus. E ficaram todos admirados e glorificavam a Deus. E cheios vimos coisas maravilhosas.

Homilias e Explicações Teológicas
A solenidade de Pentecostes, iluminada pelos textos litúrgicos, revela a ação divina que restaura e vivifica a criação. A alma, abrasada pelo Espírito Santo, encontra sua voz para louvar incessantemente, pois o dom celestial não apenas purifica, mas eleva a mente humana à contemplação das verdades eternas, transformando o coração em um altar de adoração (Santo Agostinho, Sermão 267, 4). O Espírito, descendo como fogo, não consome, mas ilumina, unindo os povos dispersos pela soberba de Babel em uma só Igreja, cuja unidade é selada pela caridade divina (São Gregório Magno, Homilia 30 sobre os Evangelhos). A cura do paralítico, narrada no Evangelho, simboliza a humanidade prostrada pelo pecado, que, pelo poder do Verbo encarnado, é erguida para caminhar em novidade de vida, mostrando que a graça divina opera tanto no corpo quanto na alma (Santo Ambrósio, Comentário sobre Lucas, 5, 17-26). A promessa de Joel, cumprida em Pentecostes, aponta para a abundância espiritual que sacia a fome da alma, pois o Senhor, habitando no meio de seu povo, faz dele um testemunho vivo de sua presença salvífica (São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre Joel, 2, 23-27). O introito, ao clamar por proteção e exultação, reflete a confiança do justo que, sustentado pelo Espírito, enfrenta as provações com esperança, pois a fidelidade divina é sua fortaleza (Santo Hilário de Poitiers, Comentário sobre os Salmos, 70, 8-23). Assim, Pentecostes não é apenas um evento passado, mas a contínua efusão do Espírito que renova a Igreja, capacitando-a a proclamar a glória de Deus até os confins da terra (São Leão Magno, Sermão 75 sobre Pentecostes).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Lucas (5, 17-26), ao narrar a cura do paralítico descido pelo telhado, enfatiza a fé coletiva dos que o carregaram e a autoridade de Jesus para perdoar pecados, aspectos menos explícitos nos paralelos. Mateus (9, 1-8) destaca a controvérsia com os escribas, sublinhando a divindade de Jesus ao perdoar pecados, mas omite o detalhe do telhado, que em Lucas simboliza a superação de barreiras pela fé. Marcos (2, 1-12) adiciona a multidão que bloqueia o acesso à casa, reforçando a determinação dos amigos do paralítico, e detalha a reação de espanto da multidão, que glorifica Deus, um elemento mais resumido em Lucas. João não apresenta um paralelo direto, mas a cura do paralítico em Bethesda (Jo 5, 1-9) complementa ao mostrar Jesus agindo por iniciativa própria, sem menção ao perdão de pecados, destacando sua soberania divina. Assim, Lucas tece a interação entre fé comunitária, autoridade divina e a manifestação visível do poder de Cristo.

Comparação com Textos de São Paulo
Em Romanos 8, 11, Paulo ensina que o Espírito que ressuscitou Cristo habita nos fiéis, vivificando seus corpos mortais, um complemento à cura física e espiritual do paralítico em Lucas, que prefigura essa regeneração. Em 1 Coríntios 12, 4-11, a diversidade de dons espirituais concedidos pelo mesmo Espírito ressoa com a efusão de Pentecostes, mas Paulo detalha a unidade do corpo de Cristo, não explicitada em Joel, onde a promessa é mais coletiva. Gálatas 5, 22-23 lista os frutos do Espírito, como amor e alegria, que amplificam o louvor exultante do introito (Sl 70), mostrando como a presença divina transforma o interior do homem. Efésios 2, 17-22, ao descrever Cristo como a paz que une judeus e gentios em um só templo, reforça a promessa de Joel sobre Deus habitando no meio de seu povo, mas enfatiza a Igreja como edificação espiritual, um aspecto menos desenvolvido nos textos litúrgicos. Assim, Paulo ilumina a dimensão eclesial e interior da obra do Espírito celebrada em Pentecostes.

Comparação com Documentos da Igreja
O Missal Romano (edição típica de 1962, Oração Coletiva de Pentecostes) invoca o Espírito como fonte de unidade e santificação, complementando Joel 2, 23-27 ao destacar a Igreja como recipiente da abundância espiritual prometida. O Breviário Romano (Hino Veni Creator Spiritus) exalta o Espírito como dedo de Deus que guia e consola, ecoando o introito (Sl 70) e acrescentando a ideia de direção divina na vida do fiel, não explicitada no salmo. A Encíclica Divinum Illud Munus (Leão XIII, 1897, n. 8-9) ensina que o Espírito renova a criação e habita nos fiéis, ampliando a cura do paralítico em Lucas 5, 17-26 ao mostrar que a graça divina opera universalmente na Igreja. O Catecismo Romano (Parte I, Art. 8, n. 3) descreve Pentecostes como o nascimento da Igreja, onde o Espírito confere coragem aos apóstolos, um aspecto que complementa a manifestação pública do poder de Cristo no Evangelho, mas com foco na missão apostólica. Esses documentos reforçam a centralidade do Espírito na vida e missão da Igreja, iluminando os textos litúrgicos com uma perspectiva eclesial e doutrinal.

13 JUNHO - S. ANTÔNIO DE PÁDUA, Confessor


Nascido em Lisboa, por volta de 1195, Santo Antônio, batizado como Fernando de Bulhões, ingressou na Ordem dos Frades Menores em 1220, adotando o nome Antônio em honra ao abade do deserto. Sua missão evangelizadora o levou a pregar em Portugal, Itália e sul da França, destacando-se por sua eloquência e sabedoria. Faleceu em Pádua, em 13 de junho de 1231, aos 36 anos, sendo canonizado menos de um ano após sua morte, em 30 de maio de 1232, pelo Papa Gregório IX. Foi proclamado Doutor da Igreja em 1946, pelo Papa Pio XII, recebendo o título de Doctor Evangelicus.
A alma de Santo Antônio foi forjada no ardor da caridade e na humildade profunda, buscando imitar a Cristo pobre e crucificado. Abandonando os confortos de sua nobre origem, abraçou a vida franciscana, dedicando-se à pregação do Evangelho com fervor que inflamava corações. Sua sabedoria, alimentada pela oração e pelo estudo das Escrituras, era um dom do Espírito, usado para converter pecadores, confundir hereges e consolar os aflitos. Sua vida foi um reflexo da verdade divina, vivendo em pobreza voluntária e confiança absoluta na Providência, enquanto sua compaixão pelos pobres e oprimidos o tornava um espelho da misericórdia de Deus.
Entre as obras atribuídas a Santo Antônio, destacam-se seus Sermões, compilados em Sermones Dominicales et Festivi, nos quais sua pregação brilha como luz para os fiéis. Um trecho representativo, extraído de um de seus sermões sobre a conversão, reflete sua visão espiritual: “Ó pecador, volta ao coração! Por que te afastas de teu Criador, que te formou para a glória? Converte-te, e o Senhor te acolherá com braços abertos, pois Sua misericórdia é maior que teus delitos.” 

Introito
Salmos 36, 30-31. Os justi meditábitur sapi éntiam, et lingua ejus loquétur judícium... A boca do justo meditará a sabedoria, e a sua língua falará o juízo: a lei do seu Deus está no seu coração. Salmo ibid., 1. Não te invejes dos malignos, nem tenhas zelo dos que praticam a iniquidade.

Leitura 1 Coríntios 4, 9-14.
Irmãos: Tornamo-nos espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens. Nós somos loucos por causa de Cristo, vós, porém, sois prudentes em Cristo; nós somos fracos, vós, porém, sois fortes; vós sois nobres, nós, porém, desprezíveis. Até esta hora padecemos fome, sede, nudez, somos esbofeteados e andamos errantes; trabalhamos com nossas próprias mãos; somos amaldiçoados, e bendizemos; somos perseguidos, e suportamos; somos blasfemados, e suplicamos. Tornamo-nos como a escória deste mundo, o refugo de todos, até agora. Não escrevo estas coisas para vos confundir, mas para vos advertir como a meus filhos muito amados, em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Evangelho Lucas 12, 35-40.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Estejam vossos rins cingidos e as lâmpadas acesas em vossas mãos, e vós semelhantes a homens que esperam o seu senhor, quando voltar das núpcias, para que, quando ele vier e bater, logo lhe abram. Bem-aventurados aqueles servos que, quando o senhor vier, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo que ele se cingirá, os fará sentar à mesa e, passando, os servirá. E se vier na segunda vigília, ou na terceira vigília, e assim os encontrar, bem-aventurados são aqueles servos. Sabei, porém, que, se o pai de família soubesse a que hora viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que sua casa fosse arrombada. Estai vós também preparados, porque, na hora em que não pensais, o Filho do Homem virá.

12 JUNHO - 5A FEIRA DE PENTECOSTES


Introito (Sl 26, 7, 8 e 9 | ib., 1)
Spíritus Dómini replévit orbem terrárum, allelúia... O Espírito do Senhor encheu todo o universo, aleluia. É Ele que contém todas as coisas, e tem a ciência da palavra, aleluia, aleluia, aleluia. Sl. Levante-se Deus, e sejam dispersos os seus inimigos; e fujam de sua Face os que O odeiam.

Epístola (At 8, 5-8)
Naqueles dias, Filipe desceu à cidade de Samaria, e ali pregou o Cristo. As turbas eram atentas ao que Filipe ensinava, escutando-o de comum acordo e vendo os milagres que realizava. Porque os espíritos impuros saíam de muitos daqueles que os possuíam, com altos gritos. Muitos paralíticos e coxos ficaram também curados, e por isso havia grande regozijo naquela cidade.

Evangelho (Lc 9, 1-6)
Naquele tempo, reuniu Jesus os doze discípulos, e conferiu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, assim como o dom de curar doenças. Depois mandou-os pregar o Reino de Deus e curar os doentes. E Ele lhes disse: Nada leveis nos caminhos, nem cajado, nem bolsa, nem pão ou dinheiro e não tenhais mais que uma túnica. Em qualquer casa que entrardes, aí permanecei e não vos retireis dela. E quando não vos receberem, deixando esta cidade, sacudi a poeira de vossos pés, em testemunho contra eles. Partiram, pois, os discípulos e percorriam as aldeias, anunciando o Evangelho e realizando curas por toda a parte.

Homilias e Explicações Teológicas
A celebração de Pentecostes revela a força vivificante do Espírito Santo, que desce sobre os apóstolos para capacitá-los a proclamar a verdade divina, unindo os povos em uma só fé. O Introito (Sl 26) expressa a confiança do justo que clama ao Senhor, cuja face busca, significando que o Espírito ilumina o coração para reconhecer a Deus como refúgio, guiando os fiéis à intimidade com o Criador (Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos, 26). A Epístola (At 8, 5-8) mostra a ação do Espírito na pregação de Filipe, que converte os samaritanos, indicando que a graça divina não se limita a um povo, mas se estende a todos, purificando as almas para a unidade na Igreja (São Cirilo de Alexandria, Comentário sobre os Atos dos Apóstolos). O Evangelho (Lc 9, 1-6) apresenta os discípulos enviados por Cristo com autoridade para curar e pregar, uma missão que antecipa o dom de Pentecostes, onde o Espírito confere poder para enfrentar as adversidades com desprendimento e confiança na providência divina (São Gregório Magno, Homiliae in Evangelia, 4). Assim, Pentecostes não é apenas um evento, mas a perpetuação da missão divina que fortalece os fiéis para viverem e proclamarem o Reino com coragem e caridade (São Leão Magno, Sermões sobre Pentecostes).

Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de Lucas 9, 1-6, que narra o envio dos doze apóstolos para pregar e curar, difere dos relatos paralelos nos outros Evangelhos por sua ênfase no desprendimento material e na confiança absoluta na providência. Em Mateus 10, 5-15, a missão é inicialmente restrita aos judeus, com instruções detalhadas sobre a rejeição da mensagem, enquanto Lucas omite essa restrição, sugerindo uma universalidade que se alinha com o espírito de Pentecostes. Marcos 6, 7-13 destaca que os discípulos expulsavam demônios e ungiam enfermos com óleo, um detalhe ausente em Lucas, que foca mais na pregação do Reino. João não apresenta um envio paralelo, mas em João 20, 21-23, Cristo concede o Espírito aos discípulos para perdoar pecados, complementando a missão lucana com a dimensão sacramental do poder conferido. Assim, Lucas enfatiza a simplicidade e a urgência da missão, enquanto os outros Evangelhos adicionam nuances sobre o alcance, os sinais e a autoridade espiritual.

Comparação com Textos de São Paulo
Em 1 Coríntios 9, 16-18, Paulo descreve sua pregação como uma necessidade imposta por Deus, sem buscar recompensas materiais, reforçando a dependência da providência destacada em Lucas. Em Efésios 4, 11-12, Paulo enfatiza que o Espírito concede dons diversos para edificar a Igreja, complementando a autoridade dada por Cristo em Lucas com a ideia de uma comunidade estruturada por ministérios variados. Romanos 10, 14-15 destaca a necessidade de pregadores enviados, ecoando a missão apostólica, mas adiciona a importância da fé que vem pelo ouvir, um aspecto implícito em Lucas. Já em 2 Coríntios 12, 12, Paulo menciona os sinais e prodígios que autenticam o apostolado, detalhando os milagres apenas sugeridos em Lucas. Assim, Paulo amplia a compreensão da missão com a diversidade de carismas e a centralidade da fé.

Comparação com Documentos da Igreja
O Missal Romano (1962) para Pentecostes destaca a efusão do Espírito como o cumprimento da promessa de Cristo, que capacita os apóstolos para a missão universal, detalhando a unidade da Igreja como fruto do Espírito, um tema implícito em Lucas. O Catecismo de Trento (Parte IV, sobre a Oração) liga a confiança na providência, expressa no envio dos apóstolos sem bens materiais, à virtude da esperança, que sustenta a missão evangelizadora. A encíclica Rerum Ecclesiae (1926) de Pio XI reforça a urgência da missão apostólica, chamando os fiéis a propagar a fé sem apego aos bens terrenos, ecoando a simplicidade exigida por Cristo em Lucas. Por fim, a Denzinger (n. 179, Concílio de Trento) sublinha a autoridade conferida aos apóstolos para ensinar, um poder que se perpetua na Igreja, complementando a missão inicial descrita no Evangelho. Esses documentos aprofundam a dimensão eclesial e espiritual da missão pentecostal.

Leão XIV e os sinais de continuidade modernista


Assim como na era pós-conciliar tudo é novidade e nenhuma novidade é realmente nova, o recente pontificado de Leão XIV não decepciona — pelo menos, para os que esperam mais do mesmo. A seguir, uma exposição sistemática de alguns dos primeiros atos deste novo ocupante da Sé de Pedro — ou melhor, da cadeira giratória pós-Vaticano II.

Ecumenismo e Sinodalidade: A Missa como Encontro de Sentimentos. Logo de início, Leão XIV deixou claro que seguirá a trilha já percorrida (e bem batida) pelos predecessores conciliares. Sua abordagem ao ecumenismo e à sinodalidade mostra-se como nada além de uma intensificação da dissolução da identidade católica. A Igreja que já não ensina convida agora todos a “caminhar juntos”, embora nenhum saiba para onde — exceto que não se pode ir em direção à Tradição. Como um padre progressista disse certa vez: "Não precisamos da verdade, precisamos da experiência do outro." Leão XIV parece ter decorado essa cartilha.
 
A Presença Espiritual de Francisco na Missa de Inauguração: Espiritismo Litúrgico. Na Missa de inauguração, o novo pontífice declarou sentir "a presença espiritual" de Francisco. Os santos Padres chamariam isso de superstitio, mas hoje é considerado "pastoralidade avançada". Ora, se os falecidos modernos aparecem na Missa Nova, por que não canonizar Madame Blavatsky? Afinal, também ela acreditava em comunhão com os desencarnados — só que era mais honesta a respeito.
 
O Cajado de Paulo VI: Relíquia de Ruína. Em seu primeiro domingo, Leão XIV decidiu empunhar o mesmo báculo utilizado por Montini — aquele símbolo infame da Paixão sem Ressurreição, com o Cristo encurvado, moribundo, esticado como em agonia perpétua. Uma escolha que resume bem o espírito da nova religião: sem glória, sem verdade objetiva, sem Tradição. Tudo é sofrimento estéril, liturgia feia e “acompanhamento”.
 
O Abraço aos Judeus: A Nova Primeira Aliança. Em seu primeiro dia, Leão XIV dirigiu palavras calorosas ao "irmão mais velho".Nada de evangelização. Nada de chamada à conversão. Apenas um abraço inter-religioso — selado não pelo Sangue da Cruz, mas pelo suor ecumênico da diplomacia conciliar.Para que Nosso Senhor instituiu apóstolos, afinal? Hoje, basta um comitê inter-religioso e uma visita ao Muro das Lamentações.
 
Repúdio à Igreja Triunfalista: Adeus à Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica.Num discurso solene, Leão XIV criticou a “Igreja triunfalista” que “ergue a bandeira da verdade como se a possuísse”."Como se a possuísse"?! Que o Senhor nos livre dessa arrogância de ser a verdadeira Igreja fundada por Cristo! Afinal, melhor ser uma ONG humilde, sorridente e... irrelevante.
 
Crença Ingênua na Paz Mundial: Um Papa ou um Miss Universo?Leão XIV fala de paz mundial com a candura de um adolescente em concurso de redação. A guerra é má, a paz é boa.Mas onde está o reconhecimento de que a verdadeira paz só vem de Cristo, Rei das Nações? Parece que foi substituído por um genérico “espírito de fraternidade”, com sabor ONU.
 
Rejeição da Pena de Morte: Roma Corrige a Escritura?Ao reiterar a rejeição da pena de morte, Leão XIV alinhou-se à heresia moral de seus predecessores. O Concílio de Trento, São Tomás, e até Nosso Senhor — que morreu sob sentença legal — são descartados em nome de uma “ética do cuidado”.
Alguém avise a São Paulo que ele estava errado em Romanos 13, por favor.
 
Nomeação da Irmã Tiziana Merletti: Sororidade Sinodal em Ação.Como nova Secretária do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, foi nomeada a Ir. Tiziana Merletti, conhecida por seu trabalho... sinodal.Nada de doutrina, nada de fundações sólidas. Apenas gestão emocional, com empatia horizontal e “vozes diversas”.Não seria surpresa se o próximo passo fosse um sínodo com freiras feministas sobre “a maternidade cósmica da Igreja”.

Leão XIV: O Leão de Pelúcia da Nova Religião. O pontificado de Leão XIV, em seus primeiros gestos, confirma a continuidade da ruptura. Não há nada de verdadeiramente católico em suas palavras ou sinais iniciais.Trata-se de mais uma peça no teatro pós-conciliar: a liturgia como performance, a doutrina como “narração plural”, e a missão como “diálogo não invasivo”.Ou, como diria um velho pastor alemão: Wir haben keine Kirche mehr.

12 JUNHO - Ss. BASÍLIDES E COMPANHEIROS, Mártires


Santos Basílides, Cirino, Nabor e Nazário, Mártires
Segundo a tradição, sofreram o martírio sob o imperador Diocleciano, entre 303 e 311, na cidade de Roma, sendo decapitados após cruéis tormentos por sua fé inabalável. Embora o Concilio Vaticano II tenha removido sua comemoração conjunta do calendário romano geral em 1969, no rito tridentino sua memória permanece viva, recordando o sacrifício desses soldados de Cristo. Estes santos, cuja vida foi forjada no crisol da perseguição, exemplificam a coragem que brota da fé ardente. Como soldados romanos, segundo a tradição, renunciaram às honras mundanas para abraçar a cruz de Cristo, enfrentando flagelos e morte com serenidade celestial. Sua vida espiritual foi um reflexo da caridade perfeita, pois, ao confessarem o nome de Jesus, mostraram que o amor a Deus supera todo temor humano. Em sua firmeza, vemos a graça divina que transforma corações, conduzindo-os a oferecer a própria vida como holocausto, para que a Igreja fosse edificada sobre o sangue dos mártires. Sua memória é preservada no Martyrologium Hieronymianum, um dos mais antigos registros de mártires, que lista seus nomes entre os heróis da fé sepultados na Via Aurelia. Um texto representativo, que ecoa o espírito de seu martírio, pode ser extraído do Sacramentarium Gelasianum, onde se invoca: “Romæ, via Aurelia miliario V, Basiledis, Cirini, Nabori, Nazari”. Esta invocação, presente no cânon da missa, reflete a veneração antiga por esses santos, cuja entrega ressoa como um hino eterno à glória de Deus, unindo a Igreja militante à triunfante.

Intróito
(Sl 78, 11-12.10) Chegue à tua presença, Senhor, o gemido dos cativos: retribui aos nossos vizinhos sete vezes no seio deles: vinga o sangue de teus Santos, que foi derramado. (Sl 78,1) Ó Deus, as nações invadiram a tua herança: profanaram teu templo santo: fizeram de Jerusalém um pomar de guardas.

Epístola (Hb 10, 32-38)
Irmãos: Lembrai-vos dos dias passados, nos quais, depois de iluminados, sustentastes grande combate de sofrimentos: ora, feitos espetáculo com opróbrios e tribulações; ora, tornados companheiros dos que assim foram tratados. Pois também compadecestes dos encarcerados, e aceitastes com alegria o roubo dos vossos bens, sabendo que tendes uma substância melhor e permanente. Não percais, portanto, a vossa confiança, que tem uma grande recompensa. Necessitais, com efeito, de paciência, para que, fazendo a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Pois ainda um pouco, bem pouco, aquele que há de vir virá, e não tardará. Mas o meu justo viverá pela fé.

Evangelho (Mt 24, 3-13)
Naquele tempo: Estando Jesus sentado no monte das Oliveiras, vieram a Ele os discípulos, em particular, dizendo:"Dize-nos, quando acontecerão essas coisas? E qual será o sinal da tua vinda e da consumação do mundo?"E Jesus, respondendo, disse-lhes:"Vede que ninguém vos engane.Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo. E enganarão a muitos.Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras. Olhai, não vos assusteis. É necessário que isso aconteça, mas ainda não é o fim.Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá pestes, fomes e terremotos em diversos lugares.Mas todas essas coisas são o princípio das dores.Então vos entregarão à tribulação e vos matarão, e sereis odiados por todas as nações por causa do meu nome.E então muitos se escandalizarão, e trair-se-ão mutuamente, e mutuamente se odiarão.E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos.E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo."

11 JUNHO - 4A FEIRA DAS TÊMPORAS DE PENTECOSTES


Introito (Sl 67, 8 e 9 | ib., 2)
Deus, dum egrederéris coram pópulo tuo, iter fáciens eis, hábitans in illis, allelúia... Ó Deus, quando andastes diante do vosso povo e lhe mostrastes o caminho, morando com ele, aleluia, foi então que a terra tremeu e os céus fizeram chover [o maná], aleluia, aleluia. Ps. Levante-se Deus, e sejam dispersos os seus inimigos e fujam de sua presença aqueles que O odeiam.

I Leitura (At 2, 14-21)
Naqueles dias, apresentou-se Pedro com os onze, elevou a voz e lhes disse: Seja-vos isto conhecido, varões da Judeia, e vós todos que habitais em Jerusalém. E com ouvidos atentos, ouvi as minhas palavras: Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, pois é apenas a hora terceira do dia, mas é isto que foi dito pelo profeta Joel: E acontecerá nos últimos dias, (diz o Senhor) que derramarei o meu Espírito sobre toda carne. E profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas, e os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos terão sonhos. Sim, naqueles dias derramarei o meu Espirito também sobre os meus servos e as minhas servas, e eles profetizarão. E farei ver prodígios em cima, no céu, e sinais em baixo, na terra: sangue e fogo e rolos de fumaça. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e magnífico dia do Senhor. E sucederá que todo aquele que invocar o Nome do Senhor, será salvo.

II Leitura (At 5, 12-16)
Naqueles dias, pelas mãos dos Apóstolos se faziam muitos milagres e prodígios entre o povo. Todos, em perfeita harmonia, estavam reunidos no pórtico de Salomão. E nenhum dos outros ousava juntar-se com eles; mas o povo muito os estimava. E cada vez mais aumentava a multidão dos homens e mulheres que criam no Senhor, de maneira que traziam os doentes para as ruas, e os colocavam em leitos e enxergões, a fim de que, ao passar Pedro, cobrisse ao menos a sua sombra alguns deles e ficassem livres de suas enfermidades. Concorria também a Jerusalém muita gente das cidades vizinhas, trazendo enfermos e vexados pelos espíritos imundos. E todos eles eram curados.

Evangelho (Jo 6, 44-52)
Naquele tempo, disse Jesus às turbas dos judeus: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não atrair. Eu o ressuscitarei no último dia. Nos Profetas está escrito: E serão todos instruídos por Deus. Portanto todo aquele que ouviu o Pai e aprendeu, vem a Mim. Não porque alguém tenha visto o Pai, pois só Aquele que é de Deus, Esse viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: O que crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o Pão da vida. Vossos pais comeram o maná no deserto, e morreram. Este é o pão que desceu do céu; o que dele comer não morrerá. Eu sou o Pão vivo, que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente; e o pão que eu darei, é a minha Carne, para a vida do mundo.

Homilias e explicações teológicas
O pão da vida, descrito no Evangelho, é um mistério sublime que transcende a compreensão humana, sendo a própria substância divina oferecida para a salvação eterna, unindo os fiéis em comunhão com o sacrifício de Cristo, que se entrega como alimento espiritual para a remissão dos pecados e a vida eterna (Santo Agostinho, Sermão 272). A efusão do Espírito narrada em Atos revela a universalidade da graça divina, que não se limita a um povo, mas se estende a todas as nações, cumprindo a promessa de restauração e renovação espiritual, como prenunciado pelos profetas (Santo Ambrósio, Sobre o Espírito Santo, Livro I, 16). A manifestação dos sinais e prodígios pelos apóstolos demonstra a autoridade divina conferida à Igreja nascente, que, pela fé, opera milagres como testemunho da verdade do Evangelho, unindo os corações dos fiéis em uma só esperança (Santo Hilário de Poitiers, Comentário ao Salmo 67). A invocação do nome do Senhor, como promessa de salvação, aponta para a necessidade de uma fé viva e operante, que se manifesta na caridade e na adesão total à vontade divina, unindo a humanidade a Deus (Santo Basílio, Homilia sobre o Salmo 67).

Comparação com os demais Evangelhos
O discurso do Pão da Vida em João 6,44-52 enfatiza a iniciativa divina na atração dos fiéis ao Filho e a natureza eucarística de sua carne como alimento para a vida eterna, aspectos menos explícitos nos sinóticos. Em Mateus 26,26-28, a instituição da Eucaristia é narrada com foco na aliança nova e eterna, destacando o sacrifício expiatório de Cristo, enquanto João aprofunda a dimensão mística da comunhão com o corpo vivo do Senhor. Marcos 14,22-24 apresenta a Eucaristia com ênfase na entrega do corpo e sangue, mas sem a explanação teológica de João sobre a necessidade de comer a carne para a ressurreição. Lucas 22,19-20 sublinha a memória do sacrifício, conectando a Ceia ao mandato de repeti-la, enquanto João vincula o ato diretamente à participação na vida divina.

Comparação com textos de São Paulo
A promessa de salvação pela invocação do nome do Senhor em Atos 2,21 ressoa em Romanos 10,13, onde Paulo enfatiza a universalidade da salvação pela fé em Cristo, sem distinção entre judeus e gentios, complementando a visão de Pedro sobre a efusão do Espírito para todos. A cura e os prodígios em Atos 5,12-16 encontram eco em 1 Coríntios 12,9-10, onde Paulo descreve os dons de cura e milagres como manifestações do Espírito para o bem comum, destacando a diversidade de carismas na Igreja, não explicitada em Atos. O chamado divino em João 6,44, onde o Pai atrai os fiéis ao Filho, é ampliado em Efésios 1,4-5, onde Paulo fala da escolha dos eleitos antes da criação, enfatizando a predestinação divina como fundamento da fé, um aspecto menos desenvolvido no Evangelho.

Comparação com documentos da Igreja
O ensino de João 6,44-52 sobre o Pão da Vida é complementado pela Encíclica Mediator Dei (1947), que destaca a Eucaristia como o centro da vida cristã, fonte de graça e unidade, enfatizando seu caráter sacrificial e comunional, não plenamente explicitado no Evangelho. A efusão do Espírito em Atos 2,14-21 encontra ressonância no Decreto do Concílio de Trento, Sessão VII (1547), sobre os sacramentos, que sublinha a ação do Espírito na santificação dos fiéis, conectando a promessa de Joel à eficácia dos ritos da Igreja. Os sinais apostólicos em Atos 5,12-16 são enriquecidos pela Constituição Apostólica Divinae Consortium Naturae (1568), que afirma a continuidade dos milagres na Igreja como sinal de sua missão divina, um ponto menos detalhado no texto de Atos. A invocação do nome do Senhor (At 2,21) é reforçada pelo Breviário Romano (edição pré-1955), que, nos hinos do Tempo Pascal, exalta a fé em Cristo como caminho de salvação, ampliando a dimensão litúrgica da promessa.

O universalismo e o misericordismo de von Balthasar


No panorama da teologia do século XX, poucos nomes foram tão celebrados – e tão perigosamente influentes – quanto Hans Urs von Balthasar. Elevado por muitos como “um dos maiores teólogos católicos do século”, Balthasar ousou propor, com aparente piedade, aquilo que os Padres e Doutores da Igreja jamais ensinaram: que se pode razoavelmente esperar que ninguém vá para o inferno (Was dürfen wir hoffen?, 1986). Mas, como advertiu o próprio Cristo, “larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela” (Mt 7,13). Ousaria Balthasar, portanto, esperar que Jesus tenha mentido?

A ideia central de Balthasar pode ser resumida assim: embora não possamos afirmar que todos se salvarão (o que seria heresia), podemos “ousar esperar” que talvez sim. Essa esperança, segundo ele, estaria em harmonia com a misericórdia de Deus e com a redenção universal operada por Cristo. No entanto, essa esperança repousa não na revelação divina, mas num sentimentalismo especulativo. A condenação eterna não é hipótese retórica nos Evangelhos, mas verdade reiterada (Lc 16,23; Mt 25,46). Cristo fala repetidamente do fogo inextinguível, da separação dos bodes e das virgens néscias. Esperar que ninguém vá para o inferno é esperar que essas palavras não se cumpram. Como afirma Ralph Martin, "Balthasar transforma as advertências de Cristo em teatrinho pedagógico: elas serviriam apenas para assustar, mas não descrevem algo que de fato acontecerá" (Martin 2012, p. 174).

A grande fraude de Balthasar é revestir de “esperança cristã” aquilo que é, em verdade, negação da justiça divina. Michael McClymond chama isso de "universalismo implícito": uma doutrina que evita a palavra, mas sustenta seu conteúdo (McClymond 2018, vol. II, p. 1032). Essa fuga tem nome: covardia. O inferno é doutrina revelada. Recusá-lo é recusar Cristo. Balthasar tenta se esquivar alegando que não afirma, apenas espera. Mas isso é um artifício lógico indigno de um teólogo católico. Aidan Nichols reconhece que, ao eliminar o elemento do juízo divino real e iminente, a pregação perde seu caráter urgente: “A esperança de salvação universal, mesmo que não seja certeza, acaba por esvaziar a exortação à penitência” (Nichols 2006, p. 112).
 
Desde os Padres até os catecismos, o ensinamento constante da Igreja nunca sustentou esperança universalista. Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, São João Crisóstomo e o próprio Catecismo Romano ensinam que muitos se perdem. Bento XII definiu infalivelmente que as almas dos condenados “descem imediatamente ao inferno” (DS 1002). O universalismo disfarçado de Balthasar é estranho a essa tradição. Ele se afasta do realismo escatológico que leva as almas à conversão, e introduz um anestésico espiritual que nada tem de apostólico.

A tese de Balthasar é, na melhor das hipóteses, uma ilusão piedosa. Na pior – e mais provável – uma heresia refinada. Esperar que todos se salvem, apesar do claro ensinamento de Nosso Senhor, é um ato de desobediência intelectual. Não se trata de esperança, mas de fuga. Como bem observa Garrigou-Lagrange, “é um erro grave pensar que a misericórdia divina contradiz sua justiça” (Garrigou-Lagrange, La Vie Éternelle, 1950). Balthasar, incapaz de suportar o escândalo do inferno, preferiu imaginar uma salvação total. Mas entre a doutrina da Igreja e os delírios de teólogos do século XX, não há lugar para conciliação. Ousar esperar? Sim. Mas ousar esperar que Jesus estivesse blefando? Isso, não.

Referências

Balthasar, H. U. von (1986). Was dürfen wir hoffen?. Einsiedeln: Johannes Verlag.
Garrigou-Lagrange, R. (1950). La Vie Éternelle et la profondeur de l’âme. Paris: Desclée.
Martin, R. (2012). Will Many Be Saved?. Grand Rapids: Eerdmans.
McClymond, M. (2018). The Devil’s Redemption: A New History and Interpretation of Christian Universalism, 2 vols. Grand Rapids: Baker Academic.
Nichols, A. (2006). Balthasar for Thomists. San Francisco: Ignatius Press.

11 JUNHO - S. BARNABÉ, Apóstolo


Sua vida foi marcada por zelo missionário e caridade ardente. Embora não se tenha registro preciso de seu nascimento, sua missão floresceu nos primórdios do Cristianismo, sendo ele um dos primeiros a acompanhar os apóstolos após a Ascensão do Senhor. A tradição aponta seu martírio por volta do ano 61, em Salamina, Chipre, onde, segundo relatos, foi apedrejado por sua pregação destemida da Verdade. Sua festa, fixada no calendário litúrgico, recorda a força de sua entrega ao Evangelho e sua intercessão pelos fiéis. Barnabé, chamado "filho da consolação", foi um homem de coração generoso, inflamado pelo Espírito Santo, que vendeu seus bens para sustentar a nascente Igreja de Jerusalém. Levita de origem cipriota, tornou-se um pilar da fé, unindo judeus e gentios na mesma esperança em Cristo. Sua vida foi um reflexo da caridade divina: com humildade, guiou São Paulo, recém-convertido, aos apóstolos, e com ele partilhou as fadigas da pregação, enfrentando perigos e perseguições. Sua confiança na Providência e sua coragem em proclamar a verdade, mesmo diante do martírio, revelam um espírito totalmente rendido à vontade de Deus, um exemplo vivo de como a graça transforma a fraqueza humana em fortaleza apostólica. Embora não tenhamos obras diretamente atribuídas a São Barnabé, a tradição associa seu nome à "Epístola de Barnabé", um texto antigo, de valor espiritual, que reflete o espírito de sua missão. Nele, encontramos um chamado à compreensão espiritual das Escrituras e à vida em conformidade com o Evangelho. Um trecho representativo diz: "O caminho da luz é este: amarás Aquele que te criou, temerás Aquele que te formou, glorificarás Aquele que te redimiu da morte."

Introito 
Salmos 138, 17 Para mim, porém, teus amigos, ó Deus, são grandemente honrados; o seu domínio foi extremamente fortalecido. Salmos 138, 1-2 Senhor, tu me sondaste e me conheceste; tu conheceste o meu sentar e o meu levantar.

Leitura At 11, 21-26; 13, 1-3
Naqueles dias, um grande número de pessoas em Antioquia se converteu ao Senhor. A notícia disso chegou aos ouvidos da Igreja que estava em Jerusalém, e eles enviaram Barnabé a Antioquia. Quando ele chegou e viu a graça de Deus, alegrou-se e exortava a todos que permanecessem fiéis ao Senhor com firmeza de coração, pois era homem bom, cheio do Espírito Santo e de fé. E uma grande multidão foi agregada ao Senhor. Barnabé partiu, então, para Tarso, a fim de procurar Saulo; e, encontrando-o, levou-o para Antioquia. Durante um ano inteiro, eles se reuniram naquela Igreja e ensinaram uma grande multidão, de modo que, em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados de cristãos. Havia, na Igreja de Antioquia, profetas e doutores, entre os quais Barnabé, Simão, chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com Herodes, o Tetrarca, e Saulo. Enquanto eles serviam ao Senhor e jejuavam, o Espírito Santo lhes disse: “Separai-me Saulo e Barnabé para a obra à qual os chamei.” Então, jejuando e orando, impuseram-lhes as mãos e os enviaram.

Santo Evangelho Mt 10, 16-22
Naquele tempo, Jesus disse a seus discípulos: Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, portanto, prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Acautelai-vos, porém, dos homens, pois vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis levados perante governadores e reis por minha causa, para dar testemunho a eles e às nações. Quando, porém, vos entregarem, não vos preocupeis com o que haveis de dizer ou como falar; pois, naquela hora, vos será dado o que deveis dizer. Porque não sois vós que falais, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós. Um irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; os filhos se levantarão contra os pais e os farão morrer. E sereis odiados por todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.

10 JUNHO - 3A FEIRA DE PENTECOSTES


Introito (Sl 26, 7, 8 e 9 | ib., 1)
Accípite iucunditátem glóriæ vestræ, allelúia... Aceitai o gozo de vossa glória, aleluia, dando graças a Deus, aleluia, que vos chamou ao Reino celestial, aleluia, aleluia, aleluia. Ps. Atende, ó povo meu, à minha lei; inclina os teus ouvidos às palavras de minha boca.

Epístola (At 8, 14-17)
Naqueles dias, ouviram os Apóstolos que estavam em Jerusalém, que os habitantes de Samaria haviam recebido a palavra de Deus, e mandaram-lhes Pedro e João. Estes, logo que chegaram, fizeram oração por eles, para que recebessem o Espírito Santo, porque Este ainda não descera sobre nenhum deles, mas tinham sido batizados ao Nome do Senhor Jesus. Então impunham as mãos sobre eles, e eles recebiam o Espírito Santo.

Evangelho (Jo 10, 1-10)
Naquele tempo, disse Jesus aos fariseus: Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta do aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, é salteador e ladrão. Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e às suas ovelhas chama por seu nome, e as leva para fora. E depois que fez sair as suas próprias ovelhas, vai adiante delas e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. Mas não seguirão o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz de estranhos. Esta parábola lhes disse Jesus, porém eles não a entenderam. Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta que dá entrada às ovelhas. Todos os que vieram antes de mim, foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes deram ouvidos. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo, entrará e sairá, e encontrará pastagens. O ladrão vem apenas para roubar, matar e perder. Eu vim, porém, para que eles tenham a Vida e a tenham mais abundante.

Homilias e Explicações Teológicas
A imagem do pastor que guarda suas ovelhas, conforme descrita no Evangelho, revela a providência divina que guia a alma fiel, não apenas como um guardião, mas como aquele que se oferece em sacrifício, unindo a humanidade a Deus por meio de sua voz que chama cada um pelo nome, estabelecendo uma relação íntima que transcende a mera proteção terrena (Santo Agostinho, Sermão 46 sobre os Pastores). A Epístola, ao narrar a imposição das mãos, sublinha a efusão do Espírito Santo, que não é apenas um dom transitório, mas a habitação permanente de Deus na alma, capacitando-a a discernir a voz do verdadeiro pastor em meio às tentações do mundo (Santo Ambrósio, Tratado sobre o Espírito Santo, Livro I). O Salmo, por sua vez, exalta a alma que busca a face de Deus, mas tal busca não é um ato isolado; é a resposta ao chamado do pastor, que desperta no coração humano o desejo de habitar na casa do Senhor, um anseio que se concretiza pela graça do Espírito (Santo Hilário de Poitiers, Comentário aos Salmos, Salmo 26). Assim, os textos convergem para mostrar que a salvação é um movimento trinitário: o Pai chama, o Filho guia como porta e pastor, e o Espírito sela a união com Deus, transformando o fiel em morada divina (Santo Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, Homilia 14).
 
Comparação com os Demais Evangelhos
O Evangelho de João (10, 1-10), ao apresentar Cristo como a porta e o bom pastor, enfatiza sua singularidade como único mediador para a salvação, um aspecto menos explícito nos sinóticos. Em Mateus 7, 13-14, a imagem da porta estreita complementa João ao destacar a exigência de esforço e escolha moral para entrar pela porta que é Cristo, enquanto João foca na identidade divina do pastor. Marcos 6, 34 descreve Jesus como pastor que se compadece das multidões, mas sem a ênfase joanina na intimidade do chamado pessoal às ovelhas. Lucas 15, 4-7, com a parábola da ovelha perdida, amplia a perspectiva ao mostrar o pastor buscando ativamente a ovelha desgarrada, um elemento ativo de busca que João não explicita, centrando-se mais na relação estabelecida com as ovelhas que ouvem sua voz. Assim, os sinóticos reforçam aspectos práticos e éticos do discipulado, enquanto João aprofunda a dimensão teológica da união com Cristo como porta e pastor.

Comparação com Textos de São Paulo
Os textos litúrgicos, especialmente o Evangelho de João 10, 1-10, encontram eco nas epístolas paulinas, que complementam sua mensagem. Em Efésios 2, 18, Paulo destaca que por meio de Cristo, único mediador, temos acesso ao Pai no Espírito, ampliando a imagem joanina da porta como o caminho exclusivo para Deus, com ênfase na reconciliação universal. Em 1 Coríntios 12, 13, a ação do Espírito na Epístola (Atos 8, 14-17) é enriquecida pela visão de Paulo do Espírito como unificador do corpo de Cristo, sugerindo que o dom do Espírito não é apenas individual, mas comunitário, formando a Igreja como rebanho unido. Além disso, em Romanos 8, 14-16, Paulo conecta a busca do Salmo 26 pela face de Deus ao espírito de adoção filial, que capacita os fiéis a clamar “Abba, Pai”, um aspecto que aprofunda a intimidade do chamado do pastor em João. Assim, Paulo oferece uma visão eclesiológica e trinitária que complementa a cristologia de João e a pneumatologia de Atos.

Comparação com Documentos da Igreja Pré-Vaticano II
O Concílio de Trento (Sessão V, Decreto sobre o Pecado Original) reforça que Cristo, como única porta, é o meio exclusivo de salvação, libertando a humanidade do pecado original, um aspecto implícito em João, mas não diretamente abordado. A Encíclica Mystici Corporis Christi (1943) de Pio XII complementa a Epístola (Atos 8, 14-17) ao descrever o Espírito Santo como a alma da Igreja, unindo os fiéis ao Corpo Místico de Cristo, o que amplia a visão da imposição das mãos como ato fundante da comunidade eclesial. O Salmo 26, com seu desejo de habitar na casa do Senhor, encontra eco na Mediator Dei (1947), que enfatiza a liturgia como espaço onde o fiel, guiado pelo pastor, encontra a Deus na oração comunitária, um tema menos explícito no Salmo. Esses documentos sublinham a centralidade de Cristo e do Espírito na vida eclesial, oferecendo uma perspectiva magisterial que aprofunda os textos litúrgicos.

O Anglicanismo na Perspectiva da "Conjuração Anticristã" segundo Monsenhor Delassus


A vasta obra de Monsenhor Henri Delassus, "A Conjuração Anticristã", publicada originalmente no início do século XX, propõe uma tese abrangente sobre uma conspiração secular orquestrada com o intuito de desmantelar a civilização cristã e, em particular, a Igreja Católica. Embora a Franco-Maçonaria e a Revolução Francesa recebam um tratamento central, o Anglicanismo, como um dos principais frutos da Reforma Protestante e como a religião estabelecida em uma potência influente como a Inglaterra, não escapa ao escrutínio do autor. 

Para Delassus, a unidade da Cristandade sob a égide da Igreja Católica Romana representava a ordem divina na terra. A Reforma Protestante, em todas as suas manifestações, é vista como um golpe catastrófico contra essa unidade, e o Anglicanismo não é exceção. A separação da Inglaterra da Sé Romana, iniciada por Henrique VIII, é interpretada não apenas como um ato de rebelião pessoal e político, mas como um evento que abriu uma brecha significativa na muralha da Cristandade (Delassus, Tomo I). Ao estabelecer uma igreja nacional independente da autoridade papal, o Anglicanismo contribuiu para o princípio do individualismo religioso e para o enfraquecimento da concepção de uma Igreja universal e visível divinamente instituída. "A Reforma", afirma Delassus, "foi o segundo grande golpe contra a civilização cristã" (Delassus, Tomo I, Cap. IV), e o Anglicanismo é, inequivocamente, uma peça fundamental nesse processo de fragmentação.

Um dos pontos mais criticados por Delassus em relação às igrejas reformadas é a sua subordinação ao poder temporal. O Anglicanismo, com o monarca inglês ostentando o título de "Governador Supremo da Igreja da Inglaterra", é um exemplo paradigmático dessa inversão da ordem hierárquica divinamente estabelecida (Delassus, Tomo I). Para Delassus, a verdadeira Igreja de Cristo deve ser independente do poder secular e, de fato, superior a ele em questões espirituais. O Ato de Supremacia inglês, portanto, é visto como uma usurpação das prerrogativas divinas da Igreja e um passo decisivo em direção à secularização do poder e à instrumentalização da religião para fins políticos. Essa estrutura, segundo o autor, pavimenta o caminho para um Estado que não apenas controla a Igreja, mas que eventualmente buscará eliminá-la ou substituí-la por um culto secular.

Delassus atribui à Inglaterra um papel central no nascimento e na disseminação da Franco-Maçonaria moderna. A atmosfera religiosa e intelectual da Inglaterra pós-Reforma, marcada pelo anglicanismo e pelo florescimento do deísmo e do racionalismo, teria sido o "terreno fértil" para o desenvolvimento de sociedades secretas (Delassus, Tomo I; Tomo II). Ele enfatiza que "foi na Inglaterra que Voltaire jurou consagrar sua vida a esse projeto [de destruir o cristianismo]" e que lá foi iniciado na Maçonaria (Delassus, Tomo I, Cap. XI). A fundação da Grande Loja de Londres em 1717 é vista como um marco, e a Inglaterra, sob o manto do Anglicanismo, teria se tornado um centro de exportação da ideologia maçônica para o continente, notadamente para a França, que por sua vez se tornaria o epicentro da ação revolucionária.

A Inglaterra não é vista por Delassus apenas como o berço da Maçonaria, mas também como uma fonte crucial de ideias filosóficas e políticas que, em sua perspectiva, corroeram a ordem cristã. O empirismo, o liberalismo político e o constitucionalismo inglês, embora distintos da radicalidade da Revolução Francesa, teriam fornecido as sementes intelectuais para os movimentos revolucionários subsequentes (Delassus, Tomo I). A "falsa luz" do Iluminismo, argumenta ele, encontrou na filosofia inglesa um de seus pilares. Essas ideias, quando exportadas e aplicadas em contextos diferentes, teriam contribuído para o questionamento da autoridade tradicional, tanto religiosa quanto monárquica, culminando na explosão revolucionária que buscava instituir uma nova ordem baseada na "razão" e nos "direitos do homem" secularizados.

A noção de tolerância religiosa, como praticada na Inglaterra em relação às diversas denominações protestantes após os períodos de conflito religioso, é interpretada por Delassus com grande suspeita. Para ele, essa tolerância não deriva de uma verdadeira caridade cristã, mas de um enfraquecimento da convicção na verdade única da fé católica, levando inevitavelmente ao indiferentismo religioso (Delassus, Tomo II). O indiferentismo, a ideia de que todas as religiões possuem um valor igual ou que a escolha religiosa é uma questão puramente privada sem consequências sociais, é um dos alicerces da "conjuração anticristã", pois mina a reivindicação da Igreja Católica de ser a única Igreja fundada por Cristo e a única detentora da plenitude da Revelação. O modelo anglicano, com sua pluralidade de interpretações e sua igreja estatal, seria um passo nessa direção.

Finalmente, a Inglaterra, como potência predominantemente protestante e, posteriormente, como império global, é frequentemente retratada como uma força que agiu, consciente ou inconscientemente, em detrimento dos interesses das nações católicas e da Santa Sé (Delassus, Tomo II; Tomo III). Seja através de alianças políticas, guerras, ou pela expansão de sua influência cultural e econômica, a Inglaterra teria contribuído para o enfraquecimento do catolicismo na Europa e no mundo. Delassus cita, por exemplo, a influência dos aliados (com a Inglaterra à frente) na Restauração francesa, impondo um modelo político que não rompia completamente com os legados da Revolução (Delassus, Tomo II, Cap. XVI). A expansão colonial inglesa também poderia ser vista como a disseminação de uma forma de cristianismo (anglicano) que ele considerava incompleto e cismático, além de uma influência secular e materialista.

Referências

Delassus, H. (1910). A Conjuração Anticristã: Tomo I – Histórico: Dos Primórdios à Revolução. 
Delassus, H. (1910). A Conjuração Anticristã: Tomo II – Histórico: Da Revolução aos Dias Atuais. 
Delassus, H. (1910). A Conjuração Anticristã: Tomo III – Solução da Questão.